Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.
No meu tempo, Douglas Garcia teria coagido Vera Magalhães às escondidas
Agora quem constrange também faz o favor de documentar, talvez para recolher elogios, objetivo parcialmente alcançado
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Para surpresa de todos, convidar Douglas Garcia para assistir, sem açaime, a um debate entre candidatos ao governo do estado de São Paulo, não foi boa ideia. Quando nada o faria prever, o admirador de gangues extremistas, criador do bloco de Carnaval Porão do Dops e disseminador de notícias falsas se comportou de um modo pouco civilizado.
O bolsonarista Tarcísio de Freitas fez o convite e o bolsonarista Douglas Garcia aceitou. No fim do debate, Garcia invadiu a área reservada para jornalistas para insultar Vera Magalhães. Por azar de Garcia, alguém estava a filmar o episódio indigno.
Era ele mesmo. Eu ainda sou do tempo em que os jornalistas eram coagidos às escondidas. Mas agora quem coage também faz o favor de documentar a coação, talvez para recolher elogios. Esse objetivo foi apenas parcialmente conseguido.
Eduardo Bolsonaro condenou o ataque, o que deve ter levado Douglas Garcia a refletir. Quando um membro da família Bolsonaro nos acusa de indecência, em princípio está na hora de fazermos uma profunda introspecção.
O próprio Tarcísio de Freitas telefonou à jornalista atacada para pedir desculpa, dizendo: "Eu mal conheço esse idiota". O que, se por um lado é simpático, por outro significa que o candidato cede a idiotas que mal conhece credenciais para assistir a debates.
Fica a lição para, no futuro, ceder credenciais apenas a idiotas que conhece muito bem. No entanto, e como seria de esperar, o ataque à jornalista também teve alguns fãs. O ministro Ciro Nogueira disse que o fato de o jornalista Leão Serva, que tinha saído em defesa de Vera Magalhães, ter arremessado para longe o celular de Garcia era "mil vezes mais grave" do que o ataque de Garcia à jornalista.
Mil vezes são muitas vezes. Se exercer violência sobre um celular é mil vezes mais grave do que exercer violência sobre uma jornalista, isso só pode significar que o celular é mil vezes mais importante do que a jornalista.
Uma perspectiva intrigante, uma vez que a lei pune a coação a jornalistas mas não o arremesso de celulares —e Nogueira, estando na política há quase 30 anos, nunca fez um esforço para corrigir esse absurdo legal. E agora? A indecência é louvável ou lamentável? É uma questão muito difícil que, receio bem, continuará sem resposta.
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