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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

O contato com a literatura sobressalta, provavelmente, por uma falta de hábito

Nenhum jovem se queixou dos livros, o que parece indicar que a juventude não precisa de ser protegida das obras censuradas

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Já comprou "O Avesso da Pele" e "Outono de Carne Estranha"? Ainda não li mas recomendo. Eu não conhecia os livros, mas como ouvi dizer que estão sendo alvo de censura, agora estou interessado.

É sempre assim. Os livros estão nas livrarias sossegados, competindo em silêncio pelo interesse do público, que costuma ser reduzido. Até que aparece alguém e diz: "Aconteça o que acontecer, não leia este livro". De repente, até quem não tem hábitos de leitura deseja ter o livro. É ótimo.

A estratégia de marketing das editoras devia passar a ser essa: enviar o livro para algum governador ou prefeito com ar de idiota e introduzir um bilhete dizendo "olha só a cena da página 76. Só espero que nenhum jovem leia isto. E tem dois palavrões, meu Deus." Em princípio, está feita a promoção da obra.

Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araújo Pereira de 17 de março de 2024 - Folhapress

De acordo com os jornais, os livros têm sido alvo de censuras diferentes, mas ambas hilariantes. "O Avesso da Pele" foi banido por cenas de sexo e palavrões, que poderiam chocar alunos do ensino médio.

O governador do Paraná considera que os jovens estudantes, que têm no bolso um aparelho que lhes permite ver, quando quiserem, os vídeos mais obscenos que a humanidade já produziu, ou descarregar o PDF do "Mein Kampf", podem ficar melindrados com uma cena de um livro.

Cabe acrescentar aqui que o pudico governador se chama Ratinho Júnior, circunstância que já não impressiona o público brasileiro, por força do hábito, mas continua a fazer rir quem assiste de longe. O bastião da moral: o excelentíssimo Ratinho Júnior.

O outro livro, "Outono de Carne Estranha", talvez esteja passando por um processo ainda mais engraçado. A obra venceu o Prêmio Sesc de Literatura e, ao que parece, tudo estava bem —até que o diretor-geral do Sesc viu um trecho do livro. A solução para todo este caso parece evidente.

Nenhum jovem se queixou de ter ficado incomodado pelos livros, o que parece indicar que a juventude não precisa de ser protegida da perfídia das obras. Quem deve ser impedido de ler os livros é o diretor-geral do Sesc e o governador Ratinho Júnior. O contato com a literatura sobressalta-os, provavelmente por falta de hábito.

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