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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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O esportista acha que Deus tem tempo e paciência para acompanhar a série D

É cômico imaginar que o todo-poderoso talvez não se esqueça de premiar Mailson Souza Duarte Júnior com o gol do Petrolina

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Acontece muitas vezes. No fim de uma competição desportiva, o vencedor agradece a Deus. Isso é verdadeira fé. O desportista não se limita a acreditar em Deus.

Ele acredita que Deus todo-poderoso, criador de todas as coisas finitas e infinitas, nos intervalos de governar o universo, tem tempo e paciência para acompanhar a série D —e, após análise cuidada do jogo, interferir no sentido de o Sergipe-Petrolina terminar com a vitória dos forasteiros por 1 a 0.

Bem sei, bem sei: até os cabelos da nossa cabeça estão todos contados. Ainda assim, talvez seja cômico imaginar que Deus —que, às vezes, por distração ou inabilidade, permite que um tsunami destrua cidades inteiras— não se esqueça de premiar Mailson Souza Duarte Júnior com a autoria do gol do Petrolina em casa do Sergipe.

O fenômeno é ainda mais engraçado quando ocorre no mundo dos desportos de combate. Tenho visto muitos praticantes de artes marciais a agradecer ao Pai do céu o fato de lhes ter permitido espancar o seu adversário até ele ficar inanimado.

No entanto, ao que me dizem, o adversário é filho do mesmo Pai. Ou seja, o lutador agradece que o Pai tenha um filho preferido —que, no caso, é ele.

Vamos supor que as minhas filhas decidem lutar numa jaula. E eu, além de não as tentar impedir, em vez de ser um árbitro imparcial, ajudo uma delas a nocautear a outra. Em princípio, alguém chamará a Comissão para a Proteção de Menores.

É provável que investiguem que raio de educação tenho eu dado às meninas. Talvez queiram saber a razão pela qual eu fiz questão de que uma delas sofresse uma concussão, para glória da outra.

Também devem estar interessados em descobrir porque é que a minha filha predileta não tem vergonha de me agradecer em público o fato de eu a preferir, nem de revelar que contribuí para a sua vitória. E eu, como creio que sabem, nem sequer sou onipotente.

Esse é outro problema. O atleta crente revela que deve a sua vitória ao fato de ter uma entidade todo-poderosa do seu lado. Ora, assim também eu ganho. É dopagem metafísica.

O desportista mais admirável, nesse caso, é o derrotado. Sobretudo quando, mesmo enfrentando Deus, só perde de 1 a 0, como o Sergipe.

Glória ao Sergipe.

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