Siga a folha

O Brasil virou um baile de mascarados

Nesta festa quem tira alguém para dançar está sempre circunavegando o abismo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Máxima atribuída a Tim Maia decretava que o Brasil é um país em que prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita.

Mas isso foi quando o país era apenas complicado. Agora virou outra coisa, ainda não dicionarizada 
—o adjetivo brasil, quem sabe, acabará por encampar nova acepção.

O ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, preso por suspeita de envolvimento no assassinato de Marielle Franco, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PSL) - Reprodução/Facebook

O crime organizado por aqui continua crime e continua organizado, mas ele se misturou de tal forma com política, polícia, bombeiros, seguranças e qualquer outro estamento que está difícil roteirizar. Visto com os olhos da história, o filme “Tropa de Elite” retrata na verdade uma sociedade pré-revolucionária.

O crime desorganizado, esse só agregou tipificações penais. O que antes não tinha agora tem; o coleguinha de escola de hoje pode  bem ser o algoz do massacre de amanhã.

Nesse baile de máscaras, as pessoas são isso e são aquilo, ao mesmo tempo ou na sequência.
Presidente da República, por exemplo. Num dia é o chefe de Estado, noutro convive com miliciano, como vizinho, nas fotos e nos laços familiares —quem há de saber ao certo onde termina essa relação? 

Já governador como cargo só do Executivo é algo que ficou no passado. No Rio, o dono da cadeira permite-se encampar tarefas que antes eram de promotor e juiz, como discutir delação premiada.

Procurador da República acha que pode ser gestor de fundação. Militar não cumpre só sua função constitucional, como também faz estrada, cuida da comunicação do governo e fomenta a ciência, para ficar em três exemplos só. Em São Paulo, o domínio do PCC diminui o número de crimes violentos nas favelas.

A confusão torna difícil saber se o interlocutor é mocinho ou bandido. Nesse baile, quem tira alguém para dançar está sempre circunavegando o abismo —e confiança, aquele velho cimento social, jamais foi convidada para uma festa assim. A máxima de Tim Maia tinha um preâmbulo: “Este país não pode dar certo”. 

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas