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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Sapato de camurça

Aloysio de Oliveira fez muito pela música, principalmente a bossa nova, mas não era unanimidade

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No domingo passado (8), ao citar Aloysio de Oliveira (1914-1995) como autor de divertidas versões em português de clássicos da canção americana, leitores se lembraram de seu papel na bossa nova. De fato, foi Aloysio quem tornou possível João Gilberto gravar "Chega de Saudade" na Odeon, de que era diretor artístico, em 1958; produziu o show "O Encontro", com João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os Cariocas, em 1962; fundou o selo Elenco, que revelou Nara Leão, Baden Powell e muita gente boa; e ainda foi marido de Sylvinha Telles.

Aloysio foi tudo isso, mas não era uma unanimidade. Seus parceiros do Bando da Lua, o grupo que ele ajudou a fundar em 1930, nunca o perdoaram por se apoderar da marca quando o Bando se desfez, em 1943, e usá-la como quis. Carmen Miranda, com quem ele foi para os EUA em 1939 como namorado, reduziu-o a seu funcionário em 1948. E Tom se queixava de que ele o vendera a Ray Gilbert, o americano que botou letras horríveis em inglês em suas canções e ficou com o dinheiro que elas renderam na América.

Quando se tratava de letras, Aloysio era liberal em todos os sentidos. Em 1957, transformou a boba "Blue Suede Shoes", de Carl Perkins, do então ameaçador rock 'n roll, em "Não Pise no Sapato", e a gravou sob seu nome americano, Louis Oliveira, com uma banda fantasma, Os Cometas, formada por seus músicos na Odeon.

A letra dizia: "Gasta o meu dinheiro/ Rasga a minha roupa/ Diga a toda gente/ Que minha vergonha é pouca// Mas não me pise no sapato/ No meu sapato novo/ Não seja amiga ursa/ Que meu sapato é de camurça.// Dá na minha cara/ Diz que eu sou ladrão/ Manda me prender/ Pelo Cosme e Damião// Mas não me pise no sapato/ No meu sapato novo etc..".

Mas Aloysio pagaria com juros todos os seus pecados. Suas parcerias com Tom em "Dindi", "Demais", "Inútil Paisagem", "Samba Torto" e "Só Tinha de Ser com Você" apagaram da história até o seu sapato de camurça.

Selo do disco de 78 rpm de ‘Não Pise no Sapato’, por Aloysio de Oliveira, de 1957 - Cristiano Grimaldi

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