Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Descrição de chapéu Boxe

Oswald vs. Jack Johnson

Em artigo de 1914, o futuro líder do modernismo diz o que pensa do primeiro grande boxeur negro

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Entre poemas, polêmicas e manifestos, tudo que Oswald de Andrade escreveu pós-Semana de Arte Moderna tem sido apaixonadamente estudado. Talvez se devesse fazer o mesmo com o que Oswald escreveu antes. Caiu-me às mãos este seu artigo assinado, publicado em O Pirralho, tabloide que ele dirigia, de 26/12/1914. Trata do americano Jack Johnson, primeiro boxeur negro campeão mundial dos pesados e que, de 1908 a 1915, demoliu todos os seus desafiantes brancos. Eis alguns trechos:

“Passou pelos nossos portos em demanda da metrópole do Sul o negro Jack Johnson, campeão mundial de boxe. E passou de primeira classe, num luxo inútil de cabines reservadas, com criados europeus e mulher branca. Jack Johnson é hoje o sugestivo semideus da brutalidade, acrescido de valor porque, às excelências dos mais façanhudos atletas, junta o colorido animalesco do negro.

“Aos aplausos, os seus músculos faciais se estorcem num esforço de vitória sobre a atávica animalidade, abre-se-lhe a horrenda boca desdentada e Johnson ri-se. Às vaias, sobem-lhe do fundo da alma rudimentar ímpetos assassinos que se partem de encontro à sua velha covardia de negro. E, de par com as admirações, surgiram os amores —histéricas, ninfomaníacas, extravagantes de toda espécie enxergam nele o homem primitivo, toda a lenda do animal tosco da idade da pedra e sobre ele se atiram na furiosa raiva do seu gozo insatisfeito.

“Desordenado e inferior, ele envereda pelo caminho torpemente humano da ambição sem freio nem medida, do desejo ruim de todas as vantagens —processam-no como explorador de mulheres. Ele, porém, se reabilita para estetas e filósofos —tem a grandeza de chorar publicamente, monstro que é, inacabado na própria imperfeição. Salva-o, para o grande público, a rijeza permanente dos seus músculos de gorila”.

O artigo não para aqui. Johnson perdeu para um branco três meses depois. Oswald deve ter ficado contente.

Jack Johnson, boxeador americano - Library of Congress EUA

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas