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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Com Tony Bennett na 5ª Avenida

Cioso de sua identidade secreta, ele não esperava encontrar um brasileiro que o admirasse como pintor

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Em 1986, um empresário baiano, Jorge Cravo, Cravinho, a passeio por Nova York, viu Tony Bennett numa esquina da 5a Avenida com a rua 55. Louco pelo cantor, de quem conhecia toda a discografia, ouvira dizer que Tony era também uma das pessoas mais amáveis do mundo —não havia registro de que um dia tivesse esnobado um admirador. Como fazia com a maior naturalidade, Cravinho dirigiu-se a ele. E, com uma única frase, ganhou sua imediata simpatia: "Mr. Bennett, sou tão fã de sua pintura quanto de sua música."

Tony não esperava por essa. Só uma fração de seu público sabia que, fora do microfone, ele pintava. Não como hobby, mas a sério, e de tal forma que, para que não o elogiassem por ser Tony Bennett, assinava seus quadros como Benedetto —seu nome verdadeiro era Anthony Benedetto. Cravinho vira fotos de seus quadros, elogiou seu tratamento do figurativo e se disse também pintor, irmão de um conhecido artista brasileiro, Mario Cravo. Tony, ao saber que ele era do Brasil, citou imediatamente João Gilberto, de sua
"enorme
admiração".

O acaso existe para isso. Tony não imaginava estar conversando com alguém que, aos 22 anos, em 1949, em Salvador, era amigo do aspirante a cantor João Gilberto, 18, para quem tocava os 78 r.p.m. que acabara de trazer de uma temporada nos EUA. Eram discos do jovem Mel Tormé, recém-saído do conjunto vocal The Mel-Tones, do grupo vocal-instrumental Page Cavanaugh Trio e do acordeonista e cantor Joe Mooney. Todos tremendamente modernos por cantar suave e baixinho, e que fizeram a cabeça do garoto João Gilberto.

Mas Cravinho, desligado como era, não lhe contou isso. Continuou a falar de pintura e, assim, Tony, contemporâneo e conhecedor daquela turma, deixou de saber de uma parte importante do DNA da bossa nova.

Não, não há nenhuma foto registrando esse encontro. A vida era assim, as coisas apenas aconteciam.

O cantor Tony Bennett com um de suas pinturas no apartamento em Manhattan, em Nova York - Larry C. Morris - 31.mai.72/The New York Times

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