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Economista principal do Banco Mundial para o Brasil e doutora em economia pela Universidade de Manchester (Reino Unido)

Descrição de chapéu PIB

Brasil e a armadilha da renda média

É preciso aprender com o sucesso de países que atingiram o status de alta renda e recalibrar a abordagem

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Em 2007, o Banco Mundial cunhou o termo "armadilha da renda média" para destacar o desafio enfrentado por países, que têm dificuldade em transitar de uma economia baseada na acumulação de capital para abordagens que incluem inovação e a adoção de tecnologias modernas. Nos últimos 34 anos, apenas 34 economias conseguiram escapar dessa situação.

Foto de drone dos prédios da região da Avenida Giovanni Gronchi, cercados pela expansão de Paraisópolis. Imagem comparativa a foto de Tuca Vieira, do mesmo local em 2004, mostra o condomínio Penthouse 20 anos depois. - Folhapress

À medida que os países ficam mais ricos, eles tendem a cair nessa "armadilha" — geralmente ao atingirem cerca de 10% do PIB per capita dos EUA, ou aproximadamente US$ 8 mil hoje, o que se enquadra na faixa de renda média definida pelo Banco Mundial. Esse fenômeno é observado em nações como o Brasil, que desde a década de 1970 luta para superar esse desafio e alcançar o status de alta renda.

Atualmente, 108 países são classificados como de "renda média", com uma renda per capita anual entre US$ 1.136 e US$ 13.845. Esses países representam 40% da atividade econômica global, abrigam mais de 60% da população mundial que vive em extrema pobreza e são responsáveis por mais de 60% das emissões globais de CO2, ressaltando sua importância para a sustentabilidade global.

No entanto, o crescimento econômico nesses países, incluindo o Brasil, não acompanhou o ritmo das nações de alta renda. O Relatório de Desenvolvimento Mundial 2024 do Banco Mundial alerta que, se as tendências atuais persistirem, a maioria dos países de renda média enfrentará desacelerações significativas no crescimento entre 2024 e 2100. Brasil e México, por exemplo, poderão se distanciar ainda mais dos Estados Unidos até o final do século.

Um fator crítico nessa desaceleração é a mudança na estrutura das economias em desenvolvimento à medida que crescem. Nos estágios iniciais, o crescimento é impulsionado pela acumulação de capital — investimentos em infraestrutura, indústria e outros ativos físicos. Porém, ao atingirem cerca de 11% do PIB per capita dos EUA, os retornos desses investimentos começam a diminuir devido à queda na produtividade marginal do capital.

Para avançar do status de renda média para alta, os países precisam complementar o investimento com a infusão de tecnologias estrangeiras e, posteriormente, desenvolver suas capacidades domésticas para agregar valor a essas tecnologias e se tornarem inovadores. Esse reajuste dos motores do crescimento econômico é essencial para que os países de renda média continuem progredindo.

O Brasil tem enfrentado dificuldades nessa transição. Nas décadas de 1970 e 1980, ao expandir sua economia, o Brasil tentou evitar a infusão de tecnologias estrangeiras, focando na inovação doméstica. Em 2001, o governo implementou uma estratégia de crescimento voltada para a inovação, receando que a dependência de tecnologia estrangeira aumentasse a desigualdade interna e gerasse dependência das economias avançadas. Embora essa abordagem tenha levado a um aumento no número de pedidos de patentes, essas eram de baixa qualidade e pouco relevantes para os mercados globais.

Enquanto isso, países como a Coreia do Sul priorizaram a infusão de tecnologia estrangeira como base para a inovação doméstica. Em 1980, a produtividade média de um trabalhador na Coreia do Sul era apenas 20% da produtividade média de um trabalhador nos EUA. Em 2019, essa produtividade havia triplicado para mais de 60% do nível norte-americano. Em contraste, a produtividade dos trabalhadores brasileiros caiu para apenas 25% do nível dos EUA em 2018.

Para que o Brasil escape da armadilha da renda média, o país deve ajustar sua estratégia de crescimento, sendo mais disciplinado e eficiente no uso de seu capital, recursos humanos e energia. Aprender com o sucesso de países que atingiram o status de alta renda e recalibrar sua abordagem pode permitir que o Brasil acabe com a pobreza e eleve os rendimentos. Isso exigirá maior abertura econômica, uma participação mais ampla nas cadeias globais de valor e maior concorrência entre as empresas para uma adoção mais rápida de novas tecnologias.

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