Vera Iaconelli

Diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, autora de "Criar Filhos no Século XXI" e “Manifesto antimaternalista”. É doutora em psicologia pela USP

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Descrição de chapéu Mente Todas violência

Respostas às denúncias revelam a cartilha da violência contra a mulher

Não faltam exemplos a mostrar que o julgamento das mulheres já está dado de saída

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No que diz respeito aos acontecimentos envolvendo o ex-ministro Silvio Almeida, temos, pelo menos, três possibilidades. Na primeira, trata-se de um homem que usou da sua posição para assediar alunas, assessoras e colegas. Na segunda, ele sofreu uma conspiração envolvendo duas dúzias de mulheres que o estão detratando por outras razões. Por último, foi tudo um grande mal-entendido e suas expressões de carinho e amizade foram interpretadas erroneamente por elas como assédios sexuais.

Não sendo policial, advogada ou juíza, não tenho como validar nenhuma delas. Mas posso refletir sobre as reações, por si só alarmantes, que se seguiram às notícias.

A imprensa tem sido, ao longo da história recente, um dos índices mais importantes para se avaliar o estágio no qual se encontra a democracia de um país. Descolada dos demais Poderes, é condição para que se comece a falar de algum nível de normalidade institucional, ainda que não haja garantias. Atacar as apurações que repórteres fazem sobre dados disponíveis é, no mínimo, suspeito.

E o fato é que já existe, há alguns meses, um processo envolvendo o ex-ministro, levado a cabo por várias mulheres. Por que o cidadão, a quem um ministro representa, não deveria ser informado de que existem tais processos, sejam procedentes ou não?

O ex-ministro Silvio Almeida em depoimento na rede Instagram - Silvio Almeida no Instagram/Silvio Almeida no Instagram

Casos que envolvem assédio a mulheres têm peculiaridades que costumam se repetir e que são usadas para desqualificá-las. As vítimas podem demorar a reconhecer que a atitude amistosa de uma figura, até então confiável, esconde investidas inadequadas, pois primeiro duvidam de si mesmas, ficando presas na ambiguidade da situação. Mulheres temem retaliações das quais certamente serão alvo. O poder do assediador é seu grande trunfo, apequenando a vítima, que sente medo e vergonha de expor a situação, daí a necessidade de instituições que as escutem em sigilo.

Não importa o quanto o acontecimento seja explícito, ainda arranjarão uma "minissaia" para dizer que a culpa foi dela. Do caso envolvendo Daniel Alves ao de Mariana Ferrer, não faltam exemplos de que o julgamento das mulheres já está dado de saída. Em função disso, qualquer argumento que desautorize a denúncia em função da hesitação e da demora é misógino.

A defesa instantânea e cheia de certeza, calcada na desqualificação das supostas vítimas, é roteiro assustadoramente conhecido. Quando promovida pelo acusado, usando os canais do ministério, revela a forma preocupante com que o ex-ministro tentou se justificar. Declarações oriundas do Instituto Luiz Gama, por exemplo, de alguns jornalistas e pessoas públicas que entenderam que apoiar a presunção de inocência do ex-ministro equivaleria a atacar a imprensa e as supostas vítimas, são inaceitáveis.

Ainda não sabemos o que se passou entre o ex-ministro e as mulheres que o acusaram, mas sabemos o que se passou depois. E o que vimos foi a cartilha mais básica de violência contra mulheres.

Sendo inocente, não caberia a Silvio Almeida manter a postura até que tudo seja esclarecido? E aos que estão de fora, não seria o caso de sustentar a dúvida?

A gestão desta crise depõe contra o acusado e seus defensores apressados, independentemente da veracidade das acusações.

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