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Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

Descrição de chapéu Mente universidade

A diferença entre ser cutucado e acariciado

Receptores diferentes acusam toque e contato social também em camundongos

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Uma das sequências de descobertas mais bonitas da neurociência é que o toque não é uma coisa só. Temos o sentido que "serve" para saber onde algo encosta no corpo, sim, e que formato tem. Este é o tato, um sentido espacial, que permite ao cérebro casar a representação do que vemos e ouvimos ao nosso redor com o que encosta em nosso corpo. O sentido do tato é bastante preciso, e causa alerta, sobretudo quando inesperado: um cutucão no ombro produz movimento da cabeça naquela direção, fato explorado por brincalhões e ladrões variados.

Mas há o outro sentido de toque da pele, sem qualquer poder de discriminação espacial, inútil para representarmos o que nos toca, mas poderoso em seu resultado: sensação de conforto e prazer, quando o toque vem com a sensação de controle de ser desejado, causado por alguém que aceitamos em nosso espaço social.

Este é o toque social, a melhor indicação de que não estamos sozinhos no mundo, que explica a preferência de bebês-macacos por "mães" macias e quentinhas à "mães" de metal duro e frio providas de mamadeiras, na falta da própria mãe, e também o efeito poderoso sobre recém-nascidos de ser acariciado por pele humana. O toque social, com uma certa pressão e sempre algum movimento — nem rápido demais, nem lento demais— ativa circuitos no cérebro que acalmam corpo e alma, e, nas crianças, propicia o crescimento.

Uma equipe de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Washington, em Saint Louis, nos EUA, mostrou recentemente na revista Science que o toque social é mediado por uma classe particular de neurônios sensoriais, situados em gânglios ao longo da medula espinhal de camundongos, e conectados a outros dentro da medula.

Usando técnicas genéticas que permitem a identificação, visualização, ativação e mesmo ablação de neurônios específicos em camundongos, os pesquisadores demonstraram que os neurônios responsáveis pelo toque social são uma população de neurônios sensoriais que produzem o peptídeo procineticina, e neurônios medulares que produzem o receptor sensível à procineticina.

Os neurônios que produzem e respondem à procineticina são fundamentais às várias alterações de comportamento que se seguem quando animais previamente mantidos em isolamento, o que deixa até camundongos ávidos por contato social, tem a oportunidade de ser gentilmente pincelados quando estão em uma, mas não outra, câmara de uma gaiola: eles passam a ficar mais e mais naquela câmara, onde as pinceladas reduzem sua frequência cardíaca e os acalmam.

O toque social parece ser também um poderoso mediador de interações entre camundongos. Animais normais investem boa parte do seu tempo lambendo e acariciando uns aos outros —mas animais desprovidos de procineticina ou seu receptor, e portanto insensível ao tato social, não participam mais em sessões de limpeza social. É bem possível que esta seja mais uma causa de variação no espectro autista: sem procineticina, carícias, ainda que bem intencionadas, são percebidas apenas como mais um cutucão.

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