Suzana Herculano-Houzel

Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

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Suzana Herculano-Houzel
Descrição de chapéu Mente dinossauro

Massa bruta primeiro, pensante depois

Estudo aponta que mamíferos pós-apocalípticos primeiro aumentaram de tamanho do corpo e só alguns milhões de anos depois passaram a ter cérebros maiores

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Nós, humanos, adoramos histórias sobre origens. Cada religião e cultura diferente têm a sua sobre a origem do universo, da Terra, da vida, do ser humano. Até os personagens da Marvel têm histórias de origens, que rendem filmes multimilionários, inclusive repetidos em universos paralelos porque senão a Sony perde os direitos sobre o Homem-Aranha —perdão, eu digressiono.

Como viemos parar aqui é uma daquelas perguntas da biologia que não viram filme multimilionário, mas hoje em dia há boas chances de virar série pseudo-documental, sobretudo com a facilidade dos efeitos especiais de computação gráfica que podem recriar épocas da vida na Terra sobre as quais só sabemos por fósseis.

Fósseis são restos mortais de criaturas que viveram ao menos dez mil anos atrás, e, em geral, há vários milhões de anos, em outras eras geológicas (menos que isso, o resto se chama apenas cadáver, mesmo). Em algum lugar no meio desses fósseis estão os restos dos nossos ancestrais.

A pesquisador Ornella Bertrand observa um fóssil de mamífero da era Mesozoica através de um microscópio
A pesquisador Ornella Bertrand, da Universidade de Edinburgo, observa um fóssil de mamífero da era Mesozoica através de um microscópio na Universidade de Washington - University of Washington/Handout via Reuters

O estudo de fósseis pela Paleontologia é a versão mais extrema, e extremamente interessante, das investigações do tipo "CSI: True Crimes" dos tempos modernos, onde se tenta reconstruir toda a vida do morto a partir do que restou dele. Como nas séries de TV, cada vez mais high-tech, também a paleontologia ganha com a modernidade.

O uso da tomografia computadorizada em crânios fósseis, por exemplo, acaba de gerar um novo marco em nossa história da vida no planeta. Ornella Bertrand e Stephen Brusatte, da Universidade de Edinburgo, na Escócia, e seus colegas publicaram na revista Science um estudo com 124 fósseis de ancestrais de mamíferos, incluindo 34 exemplares novinhos dos primeiros milhões de anos pós-extinção dos dinossauros.

Assim como uma nova evidência que muda o rumo da investigação no seriado, os 34 novos fósseis iluminam a cena "imediatamente" pós-cometa-apocalíptico-que-destruiu-os-dinossauros com uma revelação inusitada.

Até então, todas as histórias sobre a origem dos mamíferos, como nós, começavam com mamíferos pequeninos, que escaparam tanto aos dinossauros quanto à sua extinção catastrófica, e em seguida aumentavam em tamanho de corpo e cérebro ao mesmo tempo. A lógica era que animais maiores levam vantagem ao se tornar cada vez mais predadores, e não presa —e um corpo maior deve precisar de um cérebro maior.

Os novos fósseis, contudo, mostram claramente que os mamíferos pós-apocalípticos primeiro aumentaram de tamanho do corpo —e só alguns milhões de anos depois passaram a ter cérebros maiores.

Corpo e cérebro, portanto, não mudam necessariamente juntos em tamanho. "O aumento do tamanho do cérebro foi produto de competição cada vez mais acirrada entre animais maiores", propõem os autores. Eu discordo. "O cérebro aumentou de tamanho porque pôde, conforme a vida ficou mais fácil com um corpo maior", proponho eu.

Quem tem razão? Eis mais um caso para minha agência de detetives —digo, laboratório...

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