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Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

Prisão de Ronaldinho está no meio de disputa política no Paraguai

Empresária suspeita de ter fornecido documentos ao jogador é próxima de ex-presidente

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O que a tentativa de impeachment de Mario Abdo Benítez, em 2019, e vários negócios ilícitos relacionando políticos a facções criminosas têm a ver com a prisão de Ronaldinho Gaúcho e seu irmão no Paraguai?

Talvez nem eles mesmo saibam de tudo, mas esses episódios ocorrem com um único pano de fundo por trás: a disputa interna do partido Colorado, de direita.

O Paraguai tem, hoje, praticamente, dois presidentes, ambos do partido citado. Um foi eleito pelas urnas, trata-se de Abdo Benítez. O outro é Horacio Cartes, seu antecessor, um dos homens mais ricos do país e que continua à frente da maior força política do Paraguai (o Honor Colorado), que domina o Congresso. Além disso, Cartes possui fortes vínculos com a Justiça, empresários, banqueiros e contrabandistas.

Desde que assumiu, Marito, que, como sugere o apelido no diminutivo, é frágil politicamente, vem buscando se firmar no cargo. A tentativa de impeachment contra ele foi evitada apenas pela vontade de Cartes e por pressão do governo brasileiro. Se, por um lado, isso foi bom para a democracia, foi ruim para Abdo Benítez, que saiu queimado do episódio. A impressão que os paraguaios têm dele é a de ser um refém de seu antecessor.

Marito, porém, tem uma carta forte na manga, que é sua lista de amigos importantes no exterior. Entre eles, o brasileiro Jair Bolsonaro e o norte-americano Donald Trump. Abdo Benítez foi apenas o terceiro presidente da história do Paraguai a pisar na Casa Branca. Para isso, Cartes nunca havia sido convidado.

No próximo dia 12 de julho, o partido Colorado irá escolher uma nova liderança. O que está em jogo é se prevalecerá um nome de Cartes, como o atual, ou um de Marito.

É no meio desse contexto político que ocorre o episódio de Ronaldinho Gaúcho. A hipótese que o Ministério Público investiga é que o jogador e o irmão entraram no país com documentos falsos para participar de ou iniciar uma atividade ilícita. Só que, ao que parece, acabaram também virando instrumento de uma disputa política.

A empresária que “facilitou” os documentos, Dalia López, é uma pessoa próxima a Cartes. E só isso explica como é possível que ela siga se escondendo, quando um dos promotores disse à Folha que conhecia seu paradeiro. Ou seja, ela estaria protegida e negociando sua entrega, que pode gerar uma declaração que exponha outros nomes de poderosos e suas falcatruas.

Apesar da relação forte entre a Justiça e Cartes, Marito tem alguns promotores e juízes que são leais a ele. E tem usado a mão firme no caso da celebridade brasileira para melhorar sua imagem política e para propagandear que, no Paraguai, ninguém está acima da lei e a investigação continuará. Por isso usou, em entrevista à TV, a expressão “caia quem tiver de cair”.

Não sabemos qual será o fim dessa novela. É óbvio que ambos cometeram um delito grave, independente da trama mais ampla. Mesmo assim, têm direito a um tratamento adequado por parte da Justiça.

O que parece difícil é descolar o episódio desse contexto político. Sendo assim, o desenlace da novela é ainda mais imprevisível, porque depende de outros interesses em disputa.

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