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Jornalista e escritor, é autor de "Carolina, uma Biografia" e do romance "Toda Fúria"

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Tom Farias

Edição das Obras Completas de Luiz Gama ilumina a trajetória do jurista baiano

Em quatro volumes, produção de cunho abolicionista é publicada pela primeira vez em livro

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Na coluna passada, escrevi aqui sobre o advogado Luiz Gama. Como todo artigo pautado em questões raciais, sempre necessário para um país feito o Brasil, onde o racismo ainda impera, aquele sobre a atuação jurídica de Luiz Gama é de uma premência histórica, dado o papel enquanto homem de seu tempo, forjado na vida pública como jurista, abolicionista, poeta, jornalista, intelectual e pensador.

Ilustração de Luiz Gama no livro "Lições de Resistência", das Edições Sesc - Divulgação

No artigo anterior, pontuei a leitura que fiz sobre o excelente livro do professor e historiador Bruno Rodrigues de Lima –"Luiz Gama Contra o Império", da editora Contracorrente. Com base nessas leituras e nas referências nelas contidas, pude mergulhar em outros trabalhos já publicados, pelo mesmo autor, a respeito do tribuno negro.

Tratam-se dos volumes de textos enfeixados nos livros "Democracia", "Direito", "Crime" e "Liberdade", todos publicados pela editora Hedra, que compõem os primeiros dos prometidos 11 livros das obras completas do autor baiano, também sob a responsabilidade de Bruno Lima, que há anos vem se dedicando a estudar, escrever e preencher históricas lacunas sobre um dos nomes mais importantes no combate à escravidão no país.

Pelo que pude mensurar, nas leituras dessas obras, há muito ainda o que se falar a respeito da trajetória do grande jurista negro, considerado o patrono da abolição da escravatura no Brasil, em especial sobre a luta sem tréguas que travou contra o cativeiro e, acima de tudo, o aspecto de sua abundante produção jurídica e intelectual.

Os quatro primeiros volumes com seus escritos, que percorrem, aproximadamente, pouco mais de uma década de trabalho laboral, no campo do direito, do protesto contra o abuso de poder econômico e judiciário, contra a violenta e a criminosa escravização ilegal de africanos, a corrupção institucional e outras mazelas afins, corrente no império brasileiro, agora podem ser conferidos, em todos os seus detalhes, através dessas publicações.

Assim, "Democracia" perfaz o período produtivo de 1866-1869; o de "Direito", de 1870-1875; o de "Crime", de 1877-1879; e, por fim, o de "Liberdade", de 1880-1882, ano, aliás, da morte de Luiz Gama.

Cada um dos volumes está organizado com textos temáticos e datados pelo seu período de escrita e divulgação. Relevante destacar que a maioria dos textos inseridos na composição do livro é inédita, além do que boa parte deles, de forma manuscrita, constavam apenas em autos processuais, até então esquecidos nos arquivos de comarcas e tribunais onde o advogado negro militou; outros, também desconhecidos, foram divulgados somente na imprensa da época, o século 19.

Os quatro volumes, somando notas, prefácio e introdução, perfazem cerca de 1796 páginas de documentos, agora ao alcance da consulta dos admiradores e aficionados do legado de Luiz Gama. Esse total, porém, resume apenas uma pequena parte de todo o acervo alcançado, segundo o seu organizador, o qual deve ser concluído, contando mais de mil artigos inéditos, por volta de 2030, data comemorativa do bicentenário de nascimento do abolicionista baiano.

A ideia de publicação das obras completas de Luiz Gama é genial, corajosa e altamente oportuna. Bruno Lima se esmera no trato editorial dos artigos, abrindo cada um deles com resumo explicativo que nos orienta e nos insere no seu contexto, no tempo em que foi produzido.

Em particular, destaco alguns para atenta leitura. No "Democracia", sugiro "Que o povo julgue o que faz a ‘gente de gravata lavada’", sobre a nova lei de instrução primária; no "Direito", o texto "O senhor que rouba até a esmola do escravo"; no "Crime", elejo "O misterioso roubo da alfândega de Santos", que trata de caudaloso processo envolvendo o tesoureiro da instituição, acusado de desviar "milhares de contos de réis"; e, por último, no "Liberdade", recomendo, entre outros, "Interesses inconfessáveis criam anacronismos nos tribunais" e "Porque sou abolicionista sem reservas".

Luiz Gama, como "conhecedor do submundo da escravidão", sabia o que queria dizer, na tribuna ou pelos jornais. Agora nos cabe ler seus textos em livros e aguardar, com comichão da curiosidade, os volumes prometidos pelo organizador, que deve nos chegar a cada ano. E, tudo correndo bem, em 2030, quando decorre os 200 anos de nascimento do abolicionista baiano, um outro Brasil há de surgir destas páginas.

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