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A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Preço no campo gera inflação recorde e não vai dar trégua ao consumidor

Alta dos alimentos alcança maior patamar em quase 30 anos

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A inflação dos alimentos, ao subir 11,7% no primeiro semestre, atingiu a maior taxa para o período nos últimos 28 anos, segundo dados divulgados pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) nesta segunda-feira (4).

É um peso no bolso do consumidor que será difícil de ser revertido a curto prazo. A taxa de inflação pode até ficar estável, ou recuar um pouco, uma vez que ela vem da comparação de preços médios. Basta os preços permanecerem estáveis que a taxa para de crescer. O patamar elevado dos preços registrado nos últimos anos, porém, permanecerá.

Essa pressão vem do campo, e as perspectivas de mudanças não são boas. O Brasil continua obtendo safras recordes, embora sempre abaixo do potencial devido a adversidades climáticas, mas a demanda externa está aquecida e traz a pressão dos preços de fora para dentro do país.

Grãos de soja caídos em estrada rural durante colheita, nas proximidades de Londrina (PR) - Sergio Ranalli - 4.mar.2021/Folhapress

Produção e demanda mundiais estão em desequilíbrio e só serão ajustadas com pelo menos duas boas safras nos próximos anos nos principais produtores mundiais.

Esse cenário, porém, está difícil, uma vez que sempre há irregularidades climáticas em alguma região do planeta ou alguma perturbação geopolítica, como a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Pelos dados mais recentes da área semeada com soja nos Estados Unidos, por exemplo, os estoques finais da safra 2022/23 daquele país devem recuar para 4 milhões de toneladas, o suficiente para apenas 12 dias de consumo. Com isso, não há muita folga para queda nos preços.

A demanda global de alimentos vai depender também do desempenho da economia mundial. A previsão de recuperação após a pandemia poderá ser freada pelo aumento dos juros, o que afetará a economia e o poder aquisitivo do consumidor.

Essa desaceleração econômica, no entanto, influencia em escala menor o consumo de alimentos. No Brasil, apesar da recuperação do emprego, a renda continua achatada, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O novo patamar de preços dos alimentos no campo vai continuar pesando nas finanças do consumidor.

Os preços registrados até agora ainda não contemplam toda a elevação de custos que a agropecuária vem tendo nos últimos dois anos. Em alguns segmentos, como o do leite, produtores frearam investimentos, o que deve reduzir a produtividade. Outros, com margens negativas, saíram da atividade.

Segundo a Embrapa Gado de Leite, os custos de produção subiram 62% desde janeiro de 2020. O preço do leite pago ao produtor teve evolução de 43% no período. Ruim para o consumidor final, que está pagando mais, mas também para o produtor que está com perda real, quando comparados os custos com o valor de venda do leite.

A elevação de custos no agronegócio é geral, mas afeta mais fortemente os produtores voltados para o mercado interno, como feijão, mandioca, arroz e leite, entre outros.

Já os produtores com bom potencial de vendas no mercado externo, como soja, milho e carnes, têm os benefícios da demanda externa e do câmbio em alta.

A média anual dos preços do leite acumula alta de 52% de 2018 ao primeiro semestre deste ano; a da mandioca, 76%; e a do arroz, 65%. Já produtos com boa demanda externa, como soja e milho, tiveram reajustes de 129% e de 142% no período. A arroba de boi gordo subiu 130%, de acordo com o Cepea.

Café e trigo, dois itens presentes na alimentação diária, começam a apresentar preços de difícil acesso para boa parte dos consumidores nacionais.

A saca de café teve aumento de 213% na média anual de 2018 ao primeiro semestre de 2022. Geadas no Brasil, principal fornecedor mundial da bebida, e continuidade da demanda mundial aquecem os preços.

O trigo, que atinge R$ 2.200 por tonelada no campo, subiu 111% no período no mercado nacional. Produção mundial menor e dificuldades de exportações da Ucrânia e da Rússia seguram os preços externos.

A Fipe mostra que as altas no campo chegam rapidamente à mesa do consumidor. No acumulado dos últimos 12 meses até junho, enquanto a inflação média teve alta de 11,7% em São Paulo, os alimentos ficaram, em média, 20,1% mais caros.

A situação fica cada vez mais complicada para o consumidor de baixa renda. A alta do trigo provocou um reajuste de 22% no preço do pãozinho e de 25% no da farinha de trigo em 12 meses.

Os derivados do milho também refletem a aceleração dos preços no campo. O fubá está com variação acumulada de 55%, e a farinha de milho subiu 30% no mesmo período.

A principal puxada nos preços fica com o café, que acumula 77,5% de aumento em 12 meses. O leite longa vida subiu 37%; e os produtos "in natura", 36%.

Entre as proteínas, a carne de frango teve valorização de 22,5%; o contrafilé, 18,5%; e o ovo, 19,5%. Já a carne suína, mostrando que boa parte dos aumentos dos alimentos vem de fora, caiu 8%. A China reduziu as importações do produto brasileiro.

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