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Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

O que nos ensinam os banhos de sangue no cinema?

"Bacurau", "Coringa", "Parasita" e "Era uma Vez em Hollywood" mostram massacres

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Udo Kier em 'Bacurau', de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles - Divulgação

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Quentin Tarantino venceu. Na mais recente safra de filmes, o banho de sangue não é exclusivo de “Era uma Vez em Hollywood”, última produção do diretor americano.

O brasileiro “Bacurau”, o sul-coreano “Parasita” e o blockbuster “Coringa” também recorrem ao massacre explícito, com algum sentido de purificação ou acerto de contas, quando atingem o clímax, perto do encerramento. Algo revelador da nossa atualidade? Não iria tão perto.

A vingança tirada das tripas do inimigo é tema universal da arte narrativa. No final da “Odisseia”, Ulisses e seu filho Telêmaco trucidam a turma de oportunistas que cortejou a rainha Penélope durante a longa ausência do herói que lutara em Troia.

O matador circunda suas vítimas tombadas sujo de sangue, “como o leão que, tendo a rês comido, cruento o peito e a cara, avulta horrível”.

Homero compara a pilha de corpos dos chacinados por Ulisses a um amontoado de peixes que a rede traz à praia: “Na areia, mudos cobiçando as vagas, à luz do sol em breve o alento exalem”. Na tradução de Manuel Odorico Mendes, classicista nascido no Maranhão do final do século 18, a carnificina chega a ser sublime.

Eis o ponto que, aos olhos deste observador destreinado do cinema, torna as quatro produções recentes suficientemente boas. Em todas me peguei torcendo pela hecatombe, vibrando com cabeças cortadas, facas enfiadas no peito, pessoas calcinadas e multidões desopilando o fígado sobre cadáveres da elite estúpida.

Decidir se a desigualdade é a causa das explosões sociais e do crime, ou se a maldade e a loucura o são, não é o objeto das peças dramáticas. Elas manipulam enredos e argumentos elementares não para ensinar sobre a realidade, mas para destilar no espectador o terror e a compaixão.

Seus ensinamentos, se é que existem, são mais sutis e perenes —mais filosóficos ou psicológicos do que sociológicos. Sugerem que nada na natureza protege o ser humano de cometer uma barbárie ou de sentir-se recompensado por uma atrocidade.

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