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Cientista social, é professor associado na Universidade Johns Hopkins e autor de "O Povo contra a Democracia".

Descrição de chapéu Governo Trump

Saúde e política econômica

O quanto a impaciência dos americanos com o status quo afeta a eleição de 2020

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Donald Trump está alimentando tensões internacionais, aprofundando o abismo entre ricos e pobres e prejudicando gravemente as instituições democráticas. Por isso, é uma questão de urgência moral máxima assegurar que alguém o impeça de conquistar um segundo mandato presidencial.

Mas muitos dos problemas com que os EUA se defrontam começaram antes de Trump ser eleito e provavelmente vão continuar mesmo depois de ele deixar a Casa Branca. Logo, é de máxima importância garantir que quem enfrentar Trump realmente esteja determinado a combater os problemas profundamente arraigados do país.

O presidente americano, Donald Trump, após discursar em Manchester, no estado de New Hampshire - Nicholas Kamm/AFP

É possível realizar esses dois objetivos ao mesmo tempo?

Muitos americanos hoje estão abertos à possibilidade de um programa radical para reformar a economia nacional. Uma maioria inequívoca é a favor de incentivos fiscais aos trabalhadores de baixa renda, aumento do salário mínimo e aumento dos impostos sobre os ricos. Uma pluralidade de americanos quer que os grandes bancos sejam divididos em unidades menores e que a sindicalização de trabalhadores seja facilitada.

Segundo recentes pesquisas de opinião, muitos americanos hoje também pensam que o governo tem o dever de dar atendimento de saúde a todos os cidadãos. Nada menos que 70% aprovam a ideia de uma opção pública que permita a todos os americanos aderir a planos de saúde oferecidos pelo Estado.

Essas descobertas levaram membros progressistas do Partido Democrata a dizer que não precisarão pagar um preço eleitoral por adotar políticas ou rótulos que dez anos atrás estariam aparentemente muito distantes do mainstream americano.

“Se adotarmos uma agenda de extrema esquerda, dirão que somos um bando de socialistas malucos”, disse Pete Buttigieg recentemente. “Se adotarmos uma agenda conservadora, dirão que somos um bando de socialistas malucos.”

Por mais sedutores que esses argumentos possam parecer, eles contrariam evidências convincentes sobre o tipo de radicalismo que os eleitores americanos se dispõem a tolerar. Os americanos, por exemplo, não são tão contrários ao capitalismo quanto gostam de dizer os progressistas do partido. A maioria dos americanos repudia a ideia de o governo reduzir diferenças de renda, e apenas 17% dos americanos têm tanto uma visão positiva do socialismo quanto uma visão negativa do capitalismo.

A mesma coisa se aplica a políticas públicas específicas. No momento, cerca de dois terços dos americanos de até 65 anos têm seguro saúde por meio das empresas para as quais trabalham. Mas, sob pressão da esquerda do partido, alguns líderes entre os candidatos democratas, incluindo as senadoras Elizabeth Warren e Kamala Harris, já prometeram proibir os planos médicos privados —apesar de a maioria dos americanos rejeitar essa proposta.

A maioria dos americanos rejeita fortemente o socialismo e desconfia instintivamente de candidatos que prometem revolução política. Mas a maioria dos americanos também está profundamente impaciente com o status quo, convencida de que as pessoas que mandam no poder —em Wall Street e em Washington— estão explorando o sistema em benefício próprio.

Para ganhar a adesão dessa maioria, os democratas precisam propor um novo conjunto de políticas públicas que prometam consertar o capitalismo, assegurando que todos de fato sigam as mesmas regras. E precisam propor uma narrativa que ressalte os benefícios do livre empreendimento e ao mesmo tempo critique nosso sistema econômico atual, chamando-o de uma espécie de capitalismo clientelista.

Em 2020 os democratas têm a chance de recuperar a Casa Branca e corrigir algumas das maiores injustiças do país. Mas, a não ser que construam sua campanha em cima das propostas progressistas que realmente sejam capazes de ganhar o apoio da maioria dos americanos, eles correm grande risco de perder para Trump.

Tradução de Clara Allain

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