Israel proíbe visita de deputadas democratas ao país após pressão de Trump

Congressistas Ilhan Omar e Rashida Tlaib já haviam sido alvos de insultos do presidente

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Jerusalém, Washington e São Paulo | AFP

O governo de Israel anunciou nesta quinta-feira (15) que proibirá a entrada de duas deputadas democratas dos EUA que pretendiam visitar a Cisjordânia. O veto ocorre após pressão do presidente americano, Donald Trump.

"A decisão foi tomada, e é a de não permitir que elas entrem", disse Tzipi Hotovely, vice-ministra do Exterior de Israel, à rádio Reshet Bet. 

A deputada Ilhan Omar, uma das duas congressistas com entrada vetada em Israel
A deputada Ilhan Omar, uma das duas congressistas com entrada vetada em Israel - Erin Scott - 15.jul.19/Reuters

"Não há país no mundo que respeite os EUA e seu Congresso mais do que Israel. Como uma democracia livre e vibrante, Israel é aberto aos críticos e às críticas, com uma exceção: a lei israelense proíbe a entrada daqueles que pedem e trabalham para impor boicotes a Israel", disse em comunicado o premiê Binyamin Netanyahu. 

"O itinerário divulgado pelas deputadas mostrou que a única intenção delas era atacar Israel", afirmou ele.

As deputadas barradas são Ilhan Omar, de Minnesota, e Rashida Tlaib, de Michigan —as primeiras mulheres muçulmanas eleitas para o Congresso americano. Ambas defendem a causa palestina e apoiam um movimento de boicote a Israel. 

Elas também fazem parte do grupo conhecido como "o esquadrão", formado por congressistas democratas de esquerda e que se tornou um dos principais alvos de Trump.

Após o anúncio israelense, Omar disse que a decisão é uma afronta e um "insulto aos valores democráticos". De acordo com o jornal The Washington Post, é a primeira vez na história que Israel veta a entrada de congressistas americanos.  

Uma lei recentemente aprovada por Israel nega vistos a cidadãos estrangeiros que apoiem publicamente qualquer apelo por um boicote —econômico, cultural ou acadêmico— ao país.

O objetivo da medida é combater o movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções), que protesta contra o tratamento de Israel aos palestinos e vem encontrando, nos últimos anos, apoio crescente na Europa e nos Estados Unidos.

Omar e Tlaib pretendiam desembarcar em Israel no domingo (18). A viagem foi planejada pela Miftah, organização sem fins lucrativos liderada pelo legislador e veterano negociador da paz palestino Hanan Ashrawi.

A deputada Rashida Tlaib, cujo acesso a Israel foi proibido
A deputada Rashida Tlaib, cujo acesso a Israel foi proibido - Bill Pugliano - 22.jul.19/AFP

A viagem deveria durar até 22 de agosto. Tlaib esperava ainda passar mais alguns dias visitando sua avó, que vive em uma aldeia da Cisjordânia. Não há reuniões oficiais planejadas na agenda das legisladoras americanas, mas elas planejaram visitar as cidades palestinas de Belém, Hebron e Ramallah, além de passar algum tempo em Jerusalém.

Netanyahu disse que Israel ainda avalia liberar Tlaib para visitar a avó, desde que ela se comprometa a não promover um boicote contra o país. 

Durante a estadia, elas deveriam se reunir com organizações da sociedade civil israelenses e palestinas, trabalhadores assistenciais e jovens, e visitar um dos hospitais de Jerusalém Oriental afetado pelo recente corte na assistência dos Estados Unidos aos palestinos.

Horas antes da decisão israelense ser anunciada, Trump tinha usado as redes sociais para pedir que as duas deputadas fossem barradas.

 "Será uma grande demonstração de fraqueza se Israel permitir que a deputada Omar e a deputada Tlaib visitem [o país]. Ela odeiam Israel e todos os judeus e nada pode ser dito ou feito para mudar isso", escreveu ele. 

Segundo a imprensa americana, ele já vinha pressionado há algumas semanas o governo israelense para que a dupla fosse barrada. Trump, que mantém um relacionamento próximo com Netanyahu, aparentemente se frustrou com o primeiro anúncio israelense de que a visita de Tlaib e Omar seria permitida.

Em julho, o americano disse que as legisladoras deveriam "voltar" aos países de que vieram, em declarações racistas.

Tlaib, que tem ascendência palestina, nasceu no estado de Michigan, nos EUA. Já Omar nasceu na Somália, mas é cidadã americana e vive no país desde 1992, quando chegou como refugiada. 

A maioria dos democratas do Congresso reluta em criticar Israel, mas muitos já tinham criticado a possibilidade das duas deputadas serem barradas. Líderes da sigla disseram ao Washington Post em privado que medidas como essas não são pertinentes a um país que se orgulha de sua condição de democracia tolerante quanto a expressões políticas.

Segundo o jornal The New York Times, alguns líderes republicanos no Congresso também tinham criticado a possibilidade da dupla ser barrada e até algumas organizações judias discordaram da medida. 

Proibir a entrada de Tlaib e Omar também representa uma reviravolta na posição de Ron Dermer, o embaixador de Israel nos Estados Unidos, que declarou no mês passado que o país não negaria entrada a quaisquer legislador americano "por respeito ao Congresso dos Estados Unidos e à grande aliança entre Israel e América".

Segundo informações do site Axios, o governo israelense realizou uma reunião recente com representantes de suas agências e todas concordaram que a visita deveria ser autorizada para não prejudicar o relacionamento entre Estados Unidos e Israel. Não está claro o que pode ter mudado na posição israelense da semana passada para cá. 

A decisão também foi vista como uma tentativa de Netanyahu de se fortalecer internamente. A três semanas de distância de uma nova eleição, marcada para 17 de setembro, o premiê está lutando para continuar no cargo e tenta se fortalecer frente a sua base conservadora.  

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