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Cidades mineiras interrompem rotina para limpar estragos de chuvas

Em Raposos (MG), 2.000 tiveram de sair de casa; 47 pessoas já morreram em Minas Gerais

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Raposos (MG)

A ponte principal que liga os dois lados da cidade de Raposos (a 30 km de Belo Horizonte) mostra a fúria da cheia do rio das Velhas, que devastou a cidade com as chuvas do último final de semana.

As grades de proteção da passarela de pedestres ficaram retorcidas. Moradores, carros e caminhões-pipa dividiam o estreito espaço que ficou livre para ir e vir durante a operação de limpeza e recuperação nesta segunda-feira (27).

Muitos usavam máscaras no rosto para se proteger da poeira do barro que começava a secar, enquanto caminhões despejavam água na rua para ajudar a limpar a lama.

Estrago causado pelas chuvas em Raposos (MG), que teve 70% da cidade atingida - Fernanda Canofre/Folhapress

A cidade, que tem cerca de 4.900 domicílios e 15.342 habitantes, segundo o IBGE, tem 2.000 pessoas desalojadas —que estão em casas de parentes ou outros— e 550 desabrigados —quem depende de abrigos da prefeitura.

Pelo cálculo divulgado pela prefeitura, 70% da cidade foi atingida por danos causados pelas chuvas, como alagamentos e deslizamentos de terra. Pessoas que não tiveram de deixar suas casas também ajudavam na limpeza das ruas da cidade, como Carolina Assis, 30. 

"Parecia um cenário do guerra. Foi muito rápida [a inundação] e destruiu tudo. Solidariedade é importante agora", diz ela.

O cenário se repetiu em outras cidades mineiras. De acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais, o número de mortos em decorrência das chuvas passou para 47 nesta segunda-feira. Cerca de 17 mil pessoas estão fora de casa —são 14.609  desalojados e 3.386 desabrigados.

Em Raposos, a cidade viu se repetir um marco histórico que muitos ainda recordam: a enchente de 1997, a pior até então.

“Em 1997, a cidade ficou inundada, foram três dias de chuva, mas não nessa proporção de agora”, lembra Jaqueline Otaviano, 40. “A gente vinha acompanhando a previsão na TV, mas não imaginava que seria assim.”

O ponto onde ela e a mãe têm uma mercearia e bar, ao lado da ponte principal da cidade, foi invadido pela água e destruído. Uma parte do telhado caiu, o estoque foi perdido e freezers e refrigeradores queimaram.

“A gente está limpando para ver se vai dar para trabalhar ou se vai entregar [o ponto], porque aqui é aluguel”, diz Marlene Lúcia Barbosa, 68, mãe dela.

O prefeito da cidade, Sérgio Soares (PSB), também teve prejuízos com sua lotérica, que ficou inundada. Ao lado da rodoviária, um prédio onde ficam as delegacias de polícia civil e militar na cidade, posto de vacinas e defesa social também foi invadido pela água, dando perda total no que estava lá dentro.

“Igual a essa chuva, nunca vi. Perdi minhas coisas todas. Nem colchão pra dormir mais a gente tem”, diz Edson Diniz Filho, 65, aposentado, que vive desde criança no bairro Várzea do Sítio, o mais atingindo —450 famílias foram retiradas do local.

A prefeitura começou a receber as primeiras doações de comida, água e mantimentos, mas a situação ainda é crítica. "O que chegou não é suficiente para atender todo mundo”, diz a vice-prefeita Gianetti Pereira (sem partido), 42.

A cheia do Rio das Velhas também atingiu o centro de Sabará, a cerca de 20 km dali. O número de cidades em situação de emergência passou para 101. Outras três cidades decretaram calamidade pública.

A cidade de Diamantina, com centro histórico tombado pela Unesco, foi incluída na lista. Segundo a Defesa Civil municipal, a decisão veio para conseguir auxílio do estado e da União. Com 400 mm de chuva acumulados desde o dia 20, a cidade tem 18 famílias desalojadas —12 delas vivem no mesmo edifício. Não há previsão de retorno às casas.

A cidade não registrou mortes em decorrência das chuvas. “Conseguimos retirar o pessoal das casas [em áreas de risco] com segurança, para evitar mal maior. Alguns foram para aluguel social; outros, a maioria, para casa de parentes”, diz Edmar Pereira, coordenador da Defesa Civil municipal.

Coordenador da Defesa Civil de Minas, o tenente-coronel Flávio Godinho diz que as equipes do órgão permanecem em alerta máximo em todo o estado.

Na Grande Belo Horizonte, a chuva, que havia arrefecido nos últimos dois dias, voltou a cair nesta segunda-feira, dificultando as ações emergenciais.  

“As cidades [da região metropolitana] ficaram como se um tsunami tivesse passado. As ruas estão cheias do que poderia chamar de entulho, mas que na verdade são a riquezas daquelas pessoas. Eram os móveis e objetos que eles tinham, mas que acabaram perdendo”, afirma Godinho.

No interior do estado, o nível dos rios ainda não baixou como o esperado e muitas áreas ainda estão alagadas. Municípios como Manhuaçu, Espera Feliz, Carangola, Caratinga e Abre Campo estão entre as que sofreram os maiores danos.

No Espírito Santo, onde fortes chuvas causaram danos desde o dia 17 de janeiro, o cenário é considerado estável e o número de vítimas permanece em nove. O número dos que tiveram que deixar suas casas, contudo, aumentou: são 8.777 desalojados e 1.312 desabrigados no estado.

Ao todo, 20 municípios capixabas estão em alerta máximo para possíveis alagamentos e deslizamentos de terra. Em Colatina, cidade de 120 mil habitantes a 130 km de Vitória, o nível do Rio Doce ultrapassou a cota de inundação e a água invadiu a cidade.

No Rio de Janeiro, um jovem que mergulhou em um rio durante uma enchente na cidade de Itaperuna (a 313 km da capital), foi encontrado morto nesta segunda-feira. Taciano dos Reis Gama, 19, estava desaparecido havia dois dias e é a segunda vítima das chuvas que atingiram o noroeste e norte do estado.

A Prefeitura de Itaperuna decretou situação de emergência na noite de domingo por causa das chuvas intensas. A medida foi tomada depois que o rio Muriaé subiu 1,34 metro acima de seu nível de transbordo, inundando ruas e imóveis nas áreas urbana e rural.

Cerca de 16 mil pessoas foram afetadas na cidade, sendo que 3.570 ficaram desalojadas e 75 desabrigadas.

Colaboraram João Pedro Pitombo, de Salvador, e Júlia Barbon, do Rio de Janeiro

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