Mortes: Defensora da natureza, ganhou um recanto no mar
Como escrivã, Nilda Martins de Oliveira Fonseca atendia casos de violência contra a mulher, em sua maioria
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Na adolescência, o temperamento forte, a rebeldia e independência renderam a Nilda Martins de Oliveira Fonseca o apelido de Pimentinha.
Nilda gostava de ser comparada com o avô, Joaquim Martins, que a família chamava de justiceiro. Ele defendia com afinco os pescadores. Na mesma intensidade, Nilda lutava contra as injustiças.
Nascida em Registro (188 km de SP), era filha de professora e de agrimensor. Estudou até o magistério, pois seguiria a profissão de sua mãe. Quando engravidou do primeiro filho, abandonou o colégio.
Inteligente, foi aprovada nos concursos públicos que prestou: para a Secretaria da Agricultura e abastecimento do Estado de São Paulo, mais tarde o antigo Banespa e em seguida para escrivã de polícia, profissão que se dedicou durante 20 anos.
O trabalho não era fácil. Atuava em uma delegacia de polícia em Registro, onde atendia principalmente casos de violência contra a mulher.
“Ela estava cansada. Não se conformava quando a vítima, arrependida de ter ido fazer uma queixa, saía da delegacia de mãos dadas com o agressor, para daí a uns dias voltar com novas lesões. Ultimamente, tinha medo de ser contaminada pelo novo coronavírus, porque seu trabalho era presencial”, conta o tio, o jornalista e escritor Luciano Martins Costa, 70.
O conjunto de dificuldades e o fato de ter construído uma família fizeram Nilda pensar na aposentadoria.
Trocou a casa por um sítio em Iguape (200 km de SP), perto do mar. Criou galinhas, plantou uma horta e iniciou a construção de um ateliê de artesanato, atividade que praticava na adolescência, época em que também brigava pela natureza, em defesa da reserva ecológica da Jureia-Itatins.
Em março, Nilda recebeu diagnóstico de pedra na vesícula, mas a cirurgia foi adiada por causa da pandemia.
No começo de julho, foi internada no Hospital Regional, em Pariquera-Açu (214 km de SP), por causa de fortes cólicas. Com pancreatite, foi operada, mas não havia vaga em UTI para o pós-operatório, por causa da Covid-19. Quando foi para a terapia intensiva já apresentava septicemia.
Nilda Martins de Oliveira Fonseca morreu dia 14 de julho, aos 57 anos. Deixa o marido, três filhos, um neto e quatro irmãos. Viveu apenas um mês no sítio perto do mar, que em sua homenagem foi batizado de Recanto da Nilda.
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