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Descrição de chapéu maternidade alimentação

Mães montam lancheiras dos filhos nas redes sociais e bombam com ideias criativas

Preparo dos alimentos é visto como uma forma única de se comunicar com as crianças

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Campinas

"Montando a lancheirinha da Valentina", anuncia Paloma Boff, 27, no começo de todos os seus vídeos no TikTok. A dona da lancheira é sua filha de sete anos, que leva para a escola pães cortados em formato de coração, panquecas com a silhueta do Mickey Mouse, morangos picados como estrelas e até ovos cozidos moldados como ursinhos.

Todo o passo a passo desses lanches personalizados são documentados no perfil de Paloma, que já reúne 1,4 milhão de seguidores e mais de 14 milhões de curtidas. A paulista começou a fazer os vídeos em setembro do ano passado para acompanhar o início das aulas da filha em São Martinho do Porto, em Portugal, e para tentar ajudar outras mães que buscam uma rede de apoio.

Paloma Boff e sua filha Valentina, 7, seguram lancheira escolar - Gabriel Cabral/Folhapress

"As pessoas se identificam quando eu falo de um problema que aconteceu comigo, quando explico que uma receita não deu certo, que precisei acordar mais cedo para montar a lancheira ou improvisar porque acabou a água de casa", afirma. "E sempre tento fazer uma lancheira acessível, então uso forminhas que sei que as pessoas podem encontrar facilmente porque senão não faz sentido algum."

Embora traga relatos pessoais, o foco dos vídeos é a montagem e o retorno da lancheira. A crítica final vem de Valentina, que, às vezes, deixa alguns restos de fruta ou um pouco de suco na garrafa e assim vai mostrando seus interesses para a mãe.

Esse tipo de conteúdo está em diversas plataformas há alguns anos e sempre teve como principal público as mães que buscam inspirações de aperitivos para os filhos.

No entanto, os vídeos ganharam ainda mais visibilidade em dezembro do ano passado, com as lives do streamer Casimiro Miguel, que começou a reagir à transformação de alimentos comuns em pratos vistosos e elogiar a dedicação das mães em canais do YouTube.

Paloma, inclusive, passou a levar suas receitas para a mesma plataforma na tentativa de receber a avaliação bem-humorada do youtuber. "É o meu sonho que o Casimiro reagisse a um vídeo meu porque a gente aqui em casa é apaixonado por ele", diz ela, rindo.

No caso da pedagoga Lissa Hashimoto, 32, a produção de conteúdo sobre a alimentação do seu filho vem desde 2018. Mãe de Rodrigo, 3, apelidado Didi, ela começou um perfil no Instagram para compartilhar a introdução alimentar do bebê e o dia a dia da maternidade, com dicas e reflexões.

No final de janeiro deste ano, ela criou um perfil no TikTok para publicar especificamente as lancheiras do filho e também teve os vídeos viralizados. Em menos de três semanas de uso, seu perfil já reunia mais de 392 mil curtidas.

"O maior objetivo de manter essas lancheiras é mostrar que é possível ter uma comida saudável e de verdade para uma criança, de uma forma lúdica e bonita", afirma Lissa, que faz desenhos nas bananas, tinge ovos de codorna com beterraba para deixá-los rosados e corta o melão em formato de flor.

Didi também participa da elaboração da lancheira e, incentivado pela mãe, já sabe fazer seu próprio guacamole.

Para a nutricionista maternoinfantil Debora Marques, é essencial trazer a criança para participar ativamente de sua própria alimentação, seja no preparo de receitas ou na ida ao mercado, para que assim ela tenha interesse no processo e crie boas memórias relacionadas ao momento da refeição.

"Desde o início, eu tento trazer esse pensamento para os pais de que a comida não pode ser tratada como recompensa, afinal, alimentação é necessidade básica. Então, a ideia é realmente a gente trazer a maior variedade de cor e de sabor, e a forma de apresentação faz diferença para tornar o prato atrativo para a criança", afirma.

"Na introdução alimentar a gente vai trabalhando esses paladares e a textura dos alimentos. A fase pré-escolar —2 a 6 anos— tende a ser mais desafiadora, porque o ritmo de crescimento começa a diminuir, assim como o apetite, e a criança quer fazer tudo menos se sentar para comer. Ela quer brincar, explorar o mundo", acrescenta a nutricionista.

Paloma conta que a exibição das lancheiras traz frustração às vezes e citou um dia em que precisou recorrer a alimentos industrializados que tinha em casa e foi criticada por isso. "Alguns comentários chateiam porque parece que você está fazendo mal para a criança. Mas, por outro lado, também levo muito na brincadeira porque as pessoas não conseguem ver num vídeo de 15 segundos o que acontece na vida das outras durante 24 horas."

Na visão de Debora, definir o que é uma lancheira ideal depende dos outros nutrientes que a criança vai ingerir ao longo do dia e do que o núcleo familiar tem disponível. "A gente não tem que demonizar nada e nem chamar determinadas comidas de lixo ou porcaria. Precisamos entender o que funciona para cada família."

Para a nutricionista, fora de casa não dá para isolar totalmente a criança dos ultraprocessados nem culpá-la por gostar dos alimentos. "Na escola, a criança vai ter acesso a outras coisas que não tem dentro de casa por meio das lancheiras dos amiguinhos. Então eu posso fazer um bolinho ou um cookie caseiro para tornar a lancheira mais atrativa. Assim, ela pode até provar a comida do amigo, mas também vai gostar da que ela mesma trouxe."

A nutricionista maternoinfantil Marina Bonelli reforça que os responsáveis pelas lancheiras precisam estar atentos à qualidade dos alimentos que selecionam e à quantidade, para que o lanche da manhã ou o da tarde não tire o apetite de refeições como almoço e jantar.

"A oferta de uma alimentação saudável é um ato de cuidado. A gente tem uma cultura em que demonstramos muito o nosso amor por meio do alimento, mas muitas mães não têm a percepção de que o estômago da criança é pequeno e acabam colocando uma quantidade muito grande."

Ela afirma que a lancheira precisa ter três grupos de alimentos, sendo o primeiro representado por carboidratos ou oleaginosas —como pães e castanhas—, depois proteínas —queijos, iogurtes naturais— e, por fim, frutas, que devem ser a prioridade.

A especialista também pede atenção para a hidratação da criança, que deve ser composta, em sua maioria, de água. "Muitos pais gostam de mandar suco, mas o ideal é que ele não seja coado e nem adoçado. Hoje, temos sucos cheios de açúcar e peneirados, ou seja, sem as fibras. Por isso a indicação é somente a fruta."

Por fim, as mães e as nutricionistas ressaltam como essa etapa do cotidiano é uma forma única de se comunicar com as crianças.

"A alimentação é o maior presente que você pode dar para seus filhos porque não é só uma questão de saúde. A gente sabe que hoje uma alimentação equilibrada faz parte do aprendizado da criança e de seu desenvolvimento em todos os sentidos", conclui a pedagoga Lissa.

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