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Ativista grava PM atirando contra moradores da Vila Cruzeiro, no Rio

Segundo gravação, antes do disparo policial discutiu com uma mulher, que estava com um grupo de pessoas em um beco

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São Paulo

Um ativista gravou o momento em que um policial militar atira contra moradores da Vila Cruzeiro na manhã da última terça-feira (24), quando uma operação da polícia deixou ao menos 23 mortos na comunidade da zona norte do Rio de Janeiro. Ninguém foi atingido pelo disparo.

O vídeo, publicado em redes sociais, foi gravado com celular por Thainã Medeiros, 39, integrante do coletivo Papo Reto e assessor parlamentar da deputada estadual Renata Souza (Psol).

As imagens foram feitas entre 11h30 e 12h, segundo o autor, quando policiais passavam em frente a um beco onde moradores guardavam o corpo de uma pessoa, que teria sido morta em uma mata na parte alta da comunidade.

Policial chega para discutir com moradora da Vila Cruzeiro e depois volta e faz um disparo, segundo imagens gravadas por um ativista, na terça-feira (24) - Reprodução

Em nota, a PM disse que a Corregedoria Geral da Polícia Militar acompanhará as apurações a cargo da Polícia Civil sobre as ocorrências da operação.

A gravação mostra mulheres discutindo com os PMs. Uma delas afirmou, conforme o vídeo, que um dos PMs não tinha palavra. Segundos depois ele volta e pergunta: "Você falou o quê? Repete aí".

Neste instante, Medeiros disse ao agente "que estava tranquilo", enquanto o policial era retirado do local por outros PMs armados com fuzis. Cerca de 30 segundos depois, entretanto, o vídeo mostra o militar de volta ao lugar e, de frente para as pessoas, faz um disparo, aparentemente com uma arma longa.

Não está claro se foi disparo foi com munição letal.

Pouco antes do tiro, é possível ouvir uma mulher afirmando que "havia discutido com o mesmo cara, que falei para ele que ele era covarde".

Conforme o vídeo, também antes do disparo, um policial disse que "já foram oito" e "nunca morri", ao ser rebatido por uma moradora. Não dá para saber se o autor das frases é a mesma pessoa.

Após o tiro, começa a correria entre os moradores, segundo mostram as imagens. "Mas nem tinha para onde a gente correr", disse o ativista, que tentou se esconder no beco.

Medeiros, que chegou à Vila Cruzeiro por volta das 10h, contou que moradores estavam no local guardando um corpo até a chegada da família. "O tiro passou muito próximo de mim, a um metro. Se eu tivesse dado um passo para o lado teria me acertado", afirmou o ativista.

Ele disse que começou a gravar escondido, quando foi informado que agentes do Bope estavam passando pelo local. "Pela experiência do coletivo, a gente sabe que costuma haver conflito neste tipo de situação ou há abuso de autoridade", explicou. "Aquele momento aconteceu na completa surpresa."

Medeiros disse pretendia fazer uma transmissão ao vivo do que acontecia no local, mas não conseguiu porque o sinal de internet era fraco. "É uma forma de proteção", relatou ele, que afirmou ter sido chamado de mentiroso nas redes sociais.

Segundo Medeiros, uma parede próxima dali já havia sido atingida por tiros.

O corpo que estava no chão do beco, segundo ele, tinha uma espécie de pó branco no rosto. "Moradores disseram que teriam sido obrigados a comer cocaína."

A operação na Vila Cruzeiro já é a segunda mais letal da história recente da região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Geni-UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense).

O grupo de pesquisadores reúne informações sobre ações policiais realizadas desde 1989. De acordo com os dados, a ação só perde para o massacre do Jacarezinho em 2021, com 28 mortos.

A ação superou a chacina da Vila Operária em Duque de Caxias, em 1998, que deixou 23 mortos.

No fim da noite de terça, o presidente Jair Bolsonaro (PL) parabenizou a operação. "Parabéns aos guerreiros do Bope e da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa", disse Bolsonaro. As polícias Federal e Rodoviária Federal também participaram da ação.

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