Quase cinquentão, o dono da firma era o mais velho da turma criativa de uma agência de publicidade e marketing do interior paulista. Mas nem de longe era o mais careta. Quando não estava no escritório, dividia seu tempo em cima de um skate, nas corridas de rua quando o sol ainda nem havia nascido direito, ou nos acordes de um contrabaixo. Cristiano Pierobon também descobriu que trocar camisa e gravata pela camiseta da banda australiana de rock Nick Cave and the Bad Seeds poderia gerar até negócios melhores.

Pierobon foi um visionário desde cedo, como definem amigos e parceiros. Formado em direito, quando ainda estava na casa dos 30 anos de idade, convenceu o então patrão, um empresário e ex-político dono uma concessão pública parada na gaveta, a pôr no ar uma emissora de televisão em Jundiaí (a 58 km da capital paulista). A TV Rede Paulista nasceu e decolou nas suas mãos.

O jovem executivo, que chegou ao cargo de diretor-presidente, negociou tudo, da compra de equipamentos à definição da grade de programação. Ele ficou à frente da emissora de 2005 a 2013.

Adepto à leitura de biografias e histórias, durante sua gestão na TV, investiu na produção de documentários e jornalismo regional.

Saiu do emprego durante uma mudança na forma de gestão da televisão, que não existe mais, segundo lembra a jornalista Sabrina Henrique.

Cada vez mais antenado no crescimento das redes sociais, como numa manobra de skate decolou para um outro voo radical.

"Em 2013 fizemos uma especialização, fui estudar em Cambridge [Inglaterra] e em 2014 o chamei para o negócio", diz Paola Faria, 34, especialista em marketing e neurociência do consumo, sobre a montagem da agência de publicidade e marketing GoGo, da qual eram sócios e que agora segue sem o patrão descolado.

O sucesso da nova empreitada digital veio com viagens para o Vale do Silício, na Califórnia, e para a Europa.

Viajar, rock e jogos do Corinthians sempre fizeram parte da história do advogado/comunicador, como lembra a mulher, a assistente social Roberta Aparecida Ribeiro Pierobon.

Pierobon foi baixista e vocalista da banda CharlieRoad, que chegou a se apresentar em festivais, como o Jardim Elétrico, gravou CD e se manteve ativa entre 1992 e 2006. Na quarentena, ele estava aprendendo a tocar guitarra.

O casal planejava assistir a um show da banda Metallica, mas a pandemia, que forçou o adiamento de duas apresentações em São Paulo, e um câncer repentino, impediram.

A doença, um agressivo colangiocarcinoma, contrastou com o estilo de vida de atleta de Pierobon, que acordava diariamente às 5h30 para suas corridas de rua e mantinha alimentação regrada.

Segundo Roberta, em setembro do ano passado, o marido passou a sentir os primeiros sintomas. Um mês após idas e vindas a médicos, veio o diagnóstico.

Cristiano Pierobon morreu no último dia 11 de julho aos 49 anos. Deixa a mulher Roberta e um legado criativo.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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