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Descrição de chapéu Obituário Carlos Eugênio Marcondes de Moura (1933 - 2023)

Mortes: Intelectual com alma de artista, estudou as tradições populares

Carlos Eugênio Marcondes de Moura publicou dezenas de livros e traduziu importantes autores

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São Paulo

Pesquisador e intelectual de trajetória múltipla, o escritor Carlos Eugênio Marcondes de Moura era apaixonado por arte e cultura, e dedicou parte importante de sua produção acadêmica à história das religiões e tradições populares do Brasil.

O sociólogo é lembrado como intelectual com alma de artista pela amiga de longa data Carmen Junqueira, 91, antropóloga e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). "Ele adorava cinema e teatro e assistia a tudo o que estava em cartaz na cidade. Era também uma pessoa muito dedicada à leitura e um homem discreto, que não se exibia", recorda.

A natureza reservada, para amigos, pode ter contribuído para que seu nome não seja tão conhecido fora do círculo acadêmico. Sua obra, no entanto, há décadas é referência em vários campos de estudo da cultura brasileira.

Carlos Eugênio Marcondes de Moura (1933 - 2023) - Arquivo pessoal

"Quando comecei a estudar o desenvolvimento do candomblé em São Paulo, uma das minhas principais fontes de informação era o Carlos Eugênio. Ele era um grande organizador de bibliografias e coletâneas sobre temas de difícil acesso", recorda o sociólogo e professor emérito da USP (Universidade de São Paulo) Reginaldo Prandi, que cita o livro "Olóòrìsà: Escritos Sobre a Religião dos Orixás", de 1981, como marco nos estudos sobre a religião de matriz africana.

As culturas e tradições populares do Brasil em suas várias vertentes são temas frequentes da produção acadêmica de Carlos Eugênio, que assina mais de 80 livros, incluindo pesquisas próprias, traduções, peças de teatro e catálogos de exposições.

Em sua vasta bibliografia, destacam-se ainda "A travessia da Calunga Grande: Três Séculos de Imagens Sobre o Negro no Brasil", "Estou Aqui, Sempre Estive, Sempre Estarei: Indígenas do Brasil – suas Imagens" e "O Teatro que o Povo Cria", sobre festa popular paraense da época junina. O pesquisador também foi um dos principais tradutores da obra do antropólogo franco-brasileiro Pierre Verger para a língua portuguesa.

Carlos Eugênio iniciou seus estudos acadêmicos na área de tradução na Universidade de Genebra, na Suíça, ainda na juventude. No Brasil, formou-se bacharel em ciências políticas e sociais (pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e depois doutor e pós-doutor em sociologia (ambos pela USP). Na área das artes, estudou interpretação na Escola de Arte Dramática da USP e foi bolsista na Universidade de Yale, nos Estados Unidos.

Por alguns anos foi professor nos departamentos de teatro da Universidade Federal do Pará e da Escola de Comunicação e Artes da USP. A timidez, porém, o afastou da sala de aula, segundo amigos.

Foi também curador de museus e exposições, e tinha vocação para a organização e catalogação de material museológico. Segundo Prandi, ele foi um dos responsáveis, ao lado de Emanoel Araújo, pela curadoria do acervo do Museu Afro Brasil, e no Museu do Ipiranga uma coleção com seu nome exibe acervo que doou à instituição, com retratos antigos de famílias de fazendeiros do interior paulista, de onde vinha sua família.

Mesmo com problemas de saúde, Carlos Eugênio manteve-se ativo nos últimos meses de vida. "Esteve lúcido, ativo e curioso até o fim. Estava terminando a tradução do livro 'A Música e o Transe', do francês, e deixou pronta, ainda inédita, a tradução de 'Oxum Atravessou as Águas', do inglês", conta a prima Júnia Villela Gonçalves, 69.

Carlos Eugênio morreu no último dia 10, aos 90 anos, em seu apartamento na cidade de São Paulo. Ele deixa três irmãos, sobrinhos, primos e amigos.

"A gente aqui na Bahia fala que quando alguém faz uma grande obra, quando morre se torna orixá. E o Carlos Eugênio é uma pessoa que mesmo em vida já tinha se transformado em orixá pela importância de sua obra", diz o antropólogo e professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Osvaldo Fernandez, 58, amigo de Carlos Eugênio por mais de três décadas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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