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Um quarto dos brasileiros diz que seus últimos relacionamentos foram exclusivamente inter-raciais

Cenário apontado em pesquisa que faz parte da série Afeto em Preto e Branco

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São Paulo

Quase 8 em cada 10 pessoas pretas que tiveram relacionamentos inter-raciais afirmam que seu parceiro era branco.

O cenário é apontado em pesquisa Datafolha que faz parte da série Afeto em Preto e Branco. Foram entrevistadas presencialmente 2.005 pessoas, com 16 anos ou mais, em 111 municípios de todas as regiões do país. O levantamento foi realizado de 9 a 17 de outubro de 2023 e tem margem de erro geral de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Dessas 2.005, quase um quarto (24%) declarou que os seus últimos relacionamentos foram exclusivamente inter-raciais. Entre esses entrevistados, 44% afirmaram ter se relacionado com pessoas brancas, 33% com pretas. Amarelas e indígenas somaram 9%, e uma parcela de 16% citou outras.

Natália Olimpio e Thomaz Wellausen são um casal inter-racial; eles dizem sentir alguns aspectos do racismo estrutural na forma como os outros os veem enquanto companheiros - Karime Xavier/Folhapress

Ainda nesse grupo, de relacionamentos inter-raciais, 77% das pessoas pretas disseram ter se relacionado com brancas.

Já o percentual de brancos que responderam ter se relacionado apenas com pretos é de 51% e com pardos, de 47%.

No caso dos pardos, 64% responderam que se relacionaram somente com brancos.

No caso dos entrevistados que responderam que já tiveram algum relacionamento amoroso, o que corresponde a maioria (99%) deles, o Datafolha também perguntou se eles se casaram ou foram morar com alguém com cor de pele diferente da sua. Ao todo, 47% afirmaram que sim.

Desse grupo que respondeu positivamente, 41% disseram que o parceiro era branco. Outros 27% responderam preto, e 24%, pardo. Entre os entrevistados que se declararam pretos, 70% afirmaram que se casaram ou foram morar com uma pessoa branca. E, no caso dos entrevistados brancos, 33% responderam que o parceiro era preto.

A dentista Natália Olimpio, 27, e o publicitário Thomaz Wellausen, 29, que estão juntos há sete anos e se casaram recentemente, dizem não ver dificuldades dentro da relação pelo fato de serem um casal inter-racial —ela é preta, e ele, branco.

Já notaram, porém, diferenças de tratamento, especialmente de pessoas de fora de seus círculos íntimos. Eles contam que as pessoas fazem comentário sobre os dois com surpresa, porém não em tom positivo, e sim como se fosse algo fora do padrão.

No começo do namoro, segundo eles, sentiam que sempre eram o centro das atenções quando chegavam a algum lugar.

Eles dizem acreditar que o racismo é o responsável pelo estranhamento causado e, acrescentaram, que mesmo em um relacionamento inter-racial há discussões a serem feitas. Para ambos, o respeito deve ser base fundamental da relação.

"A gente sempre teve muito respeito, e o Thomaz sempre me respeitou muito, independentemente da minha etnia, então não me sentia uma mulher negra, eu me sentia uma mulher dentro da relação", afirmou Natália.

Já para os estudantes de jornalismo Melannie Silva, 21, e Jônatas Fuentes, 20, houve receios dela na hora de conhecer a família do namorado. E, apesar da aprovação, ele já ouviu comentários pontuais de parentes em tom depreciativo —ambos têm pais em relacionamentos inter-raciais.

"Já fui perguntado se 'não tinha outra'. Eu fiquei abismado, porque veio de uma das pessoas que eu mais gostava da minha família. Acabou que entendi que é uma característica de certa forma enraizada nessa minha outra família, e minha própria mãe já passou por caso semelhante, porque ela também está em um casamento inter-racial", afirmou Jônatas.

Mauro Baracho, mestre em antropologia social pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisador de temas raciais, avalia que as relações inter-raciais podem ser vistas como fora dos padrões porque critérios étnico-raciais ainda são levados em conta para um relacionamento.

Ele entende que, para evitar dificuldades no relacionamento devido a manifestações de racismo tanto entre o casal como por aqueles que os rodeiam —sejam próximos ou não— é necessário um esforço pelo letramento racial, especialmente dos brancos.

"O importante é que as pessoas, principalmente as brancas, entendam que estão entrando em um relacionamento com uma pessoa construída de outra forma, com outra autoestima", diz baracho. "O problema não é a diferença entre a cor, é a hierarquia enraizada na sociedade."

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