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Promotoria denuncia GCMs suspeitos de tráfico de armas e milícia no centro de SP

Eles foram presos em megaoperação da semana passada que reuniu uma força-tarefa para desmantelar um ecossistema criminoso

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São Paulo

Quatro guardas-civis metropolitanos (GCMs) foram denunciados nesta quinta (15) por promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo sob acusação de formação de uma milícia na região central da capital.

O grupo é suspeito de vender serviços de proteção ilegal para comerciantes do entorno da cracolândia. Um deles chegou a movimentar R$ 4 milhões entre 2020 e 2024, segundo relatório de inteligência produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) a pedido do Gaeco. Eles são acusados dos crimes de constituição de milícia privada, concussão (exigência de vantagem indevida em razão de sua função) e lavagem de dinheiro.

Homem é detido pela polícia durante megaoperação do Gaeco deflagrada na manhã de terça-feira (6) na Favela do Moinho, na região central de São Paulo - Folhapress

Outros cinco homens, entre eles três GCMs, também foram denunciados pelo Gaeco, acusados de formar uma organização criminosa de comércio ilegal de armas pesadas e de munições também no centro de São Paulo. Os crimes citados são de organização criminosa, comércio ilegal de armas de fogo e falsificação de produtos para fins medicinais, pois as investigações apontaram para a venda de Citotec, remédio usado para aborto.

Todos eles foram presos no âmbito da Operação Salus et Dignitas (saúde e dignidade, em latim), deflagrada na semana passada e que teve a participação das polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária Federal, além do Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho, Receita Federal e estadual, Anatel (Agência Nacional de Telefonia) e órgãos de assistência social do governo paulista e da prefeitura.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa dos acusados.

O objetivo da operação era instituir um novo modelo de intervenção, que abarca um ecossistema de atividades ilícitas na região central de São Paulo para romper com o monopólio do PCC sobre esse território.

As investigações revelaram que a região, marcada pela cena aberta de uso de drogas na cracolândia, vive uma interconexão de delitos, entre corrupção ativa e passiva, venda ilegal de armas, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, exploração sexual, receptação de roubos e furtos e trabalho em condições análogas à escravidão.

As investigações lideradas pelo Gaeco apontaram para indícios de que o grupo de guardas manipulava a localização do fluxo de usuários de drogas da cracolândia pelas ruas da região central, seja para pressionar comerciantes a contratar os serviços de proteção, seja para cumprir com o combinado no serviço ilegal de proteção.

Ao participar de entrevista coletiva com outras autoridades sobre a investigação e a operação, na semana passada, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse desconhecer "a existência de milícia atuando na cidade".

Ele afirmou que a operação tratava de casos isolados e que os problemas apontados pela investigação não são generalizados na GCM.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informa que protocolou um pedido na Justiça para ingressar como assistente de acusação no processo dos servidores da Guarda Civil Metropolitana citados. Elisson de Assis e Rubens Alexandre Bezerra já foram exonerados da corporação e os demais denunciados estão sumariamente afastados até a conclusão processual.

GCMs formaram milícia que vendia serviços ilegais de proteção

Antonio Carlos Amorim Oliveira, GCM integrante do grupo agora denunciado, havia sido afastado da guarda em junho do ano passado sob a suspeita de exigir uma taxa mensal de comerciantes da região central para manter os usuários de drogas afastados de suas lojas.

Segundo a investigação, Oliveira movimentou R$ 4 milhões, e os valores foram repassados a outros dez agentes que integravam o esquema, segundo as investigações. Um deles era Elisson de Assis, outro guarda municipal afastado em 2023 por suspeitas de praticar extorsões na região da cracolândia. Na época, seu então advogado, Gilberto Quintanilha, afirmou que as denúncias não eram verdadeiras.

Assis já havia sido apontado como chefe de uma milícia cujas transações, feitas por meio da empresa registrada no nome de sua mulher, Mayara Ximenes do Nascimento, continham uma lista de controle de pagamentos da segurança de comércios e de condomínios, intitulada "Lista de Colaboradores de Boa Fé que Pagaram a Segurança", na qual constava uma "data limite" para o acerto. Entre as movimentações feitas por Assis está o recebimento de transferências que somam R$ 841 mil.

Oliveira e Assis fazem parte da Iope, considerada a tropa de elite da guarda do município. Já o guarda Tiago Moreira da Silva, também da Iope e agora denunciado, recebeu R$ 106,1 mil por meio de mais de 50 transações via Pix.

A quarta guarda-civil denunciada, Renata Oliva de Freitas Scorsafava, realizou movimentações financeiras atípicas, tendo recebido cerca de R$ 80 mil ao final de uma séria de débitos e créditos em suas contas. Scorsafava transferiu ao menos R$ 116,4 mil a membros das forças de segurança, entre eles policiais civis e militares e guardas.

Seu marido, um soldado da PM, e o GCM Oliveira, estão entre os beneficiados dos depósitos.

Grupo vendia armas e munições ilegais no centro de SP

O GCM fora da ativa Rubens Alexandre Bezerra, que se entregou após o término da operação na última semana, é agora denunciado pelos promotores sob suspeita de vender armamentos, munições e outros dispositivos para a prática de crimes.

De acordo com a Promotoria, em seu celular apreendido em outra operação voltada ao comércio ilegal de peças automotivas, em 2023, foram encontrados detalhes de negociação de armas de pequeno e de grosso calibre, curtas e longas, automáticas e semiautomáticas, além de fuzis de assalto.

Bezerra mantinha tabelas de munições e era dono de dois estacionamentos na região central. As investigações apontaram os locais funcionavam como balcão para a venda ilegal de armas e munições.

Ainda de acordo com a apuração, ele atuava com outros dois CGMs, também denunciados: Elias Silvestre da Silva e Ednaldo de Almeida Passos. Segundo a denúncia, eles comercializaram vários tipos de armas e de munições entre 2019 e 2023, e as investigações levaram a indícios de que Silva desviava armas recebidas pela corporação por meio de campanhas de desarmamento.

Fazem ainda parte do grupo de denunciados Edno Sousa da Silva, com quem Bezerra teria negociado a venda de pistolas e fuzis, e Odair José Gonçalves Rodrigues, já preso por furto e receptação, para quem Bezerra teria vendido armas e remédios abortivos.

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