Ferros-velhos exploram trabalho infantil e receptam material furtado, afirma investigação

Instalações estão entre os alvos da megaoperação deflagrada nesta terça (6) no centro de SP

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São Paulo

Megaoperação deflagrada na manhã desta terça-feira (6) no centro de São Paulo para desmantelar atividades criminosas sob o controle territorial do PCC (Primeiro Comando da Capital) tem entre seus alvos uma série de ferros-velhos e galpões de reciclagem irregulares.

Além das condições insalubres e da presença de trabalho infantil, esses locais receberiam produtos de furtos e roubos, além de explorarem pessoas em situação de vulnerabilidade. Algumas das pessoas que vendem materiais para esses locais são pagas com cachaça.

A imagem mostra um grupo de homens, aparentemente policiais ou militares, caminhando por um beco estreito em uma área urbana. As paredes ao redor são de cores variadas, e há roupas penduradas em um varal. O chão é de cimento e parece estar em uma condição um pouco desgastada. O ambiente é apertado, com casas próximas umas das outras.
Operação na favela do Moinho como parte da ação que visa desmantelar atividades ilegais no centro de SP, como ferros-velhos - Danilo Verpa/Folhapress

A investigação indica que alguns desses ferros-velhos irregulares vendem materiais para empresas regulares do ramo da reciclagem.

"Tem garotinho trabalhando em ferro-velho nos mesmos materiais que, lá na frente, vão ganhar um selo verde. Muitas empresas não controlam a cadeia daquilo que compram. E, na reciclagem, tem trabalho degradante. Queremos mexer com isso também", diz o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, grupo do Ministério Público que liderou as investigações.

Relatórios financeiros produzidos a partir de dados dos proprietários de diversos ferros-velhos e estabelecimentos ligados à reciclagem detectaram, em um dos casos, movimentações de mais de R$ 5 milhões em seis meses, com saques em espécie que somam mais de R$ 1 milhão, o que sugere um esquema de lavagem de dinheiro.

"Esse comércio irregular emprega trabalho infantil e análogo à escravidão e faz receptação de material furtado. Será que ninguém está vendo isso? Cabe à prefeitura explicar. O que temos de fazer é dar um basta. E que venha uma empresa legalizada deste setor", afirma o promotor.

Para Gakiya, após a megaoperação, cabe ao Estado, nas figuras do governo e do município, reocupar o território e torná-lo um bem público. "O tráfico não vai acabar nem os dependentes químicos vão desaparecer, e crimes vão continuar acontecendo, mas esse estado de coisas ilegal e a violação sistêmica de direitos de todos, inclusive dos dependentes químicos, deve acabar."

Entenda a operação

Liderada pelo Gaeco (Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), a operação desta terça teve a participação das polícias Militar, Civil Federal e Rodoviária Federal, além do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho, Receita Federal e estadual, Anatel (Agência Nacional de Telefonia) e Secretaria de Assistência Social do governo.

A ideia, segundo os promotores, é instituir um novo modelo de intervenção capaz de abarcar a complexidade do território, que tem como questão mais visível o consumo de drogas em cenas abertas de uso. O abuso de entorpecentes, no entanto, acontece em meio a crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, abuso de menores, receptação de roubos e furtos, e também condições de trabalho análogas à escravidão.

Com a atuação multidisciplinar, o Gaeco pretende desestruturar esse ecossistema de atividades ilícitas e, assim, romper com o monopólio do PCC nesta região do centro de São Paulo.

A operação inclui 85 mandados de busca e apreensão, 48 medidas de confisco e bloqueio de bens, 45 medidas de suspensão de atividades econômicas e de interdição por lacração de estabelecimentos e sete prisões de pessoas apontadas como lideranças ou peças-chave da atuação desses grupos criminosos.

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