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Revisão do novo ensino médio é adiada para 2024 após apelo de ministro, diz relator

Mendonça Filho (União Brasil-PE) se reuniu com ministro da Educação, Camilo Santana, nesta terça

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Brasília

O relator do projeto de lei que altera a reforma do ensino médio, deputado Mendonça Filho (União Brasil-PE), afirmou nesta terça-feira (19) que a votação da matéria foi adiada e ocorrerá no começo de 2024 após um apelo do ministro da Educação, Camilo Santana (PT).

Mendonça afirmou à Folha que se reuniu nesta manhã com o ministro e com o líder do governo Lula na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e que atendeu ao apelo dos petistas.

"Foi adiada a votação para o próximo ano. Camilo Santana fez um apelo, líder do governo também, porque eles querem aprofundar mais as discussões", diz Mendonça.

Fachada do Congresso Nacional, em Brasília - Leonardo Sá/Agência Senado

"Eu não quero fazer disso um debate político, ou que pareça que eu não me dispus a negociar. Temos que estreitar as distâncias entre o meu relatório e o que defende o MEC. Preferi atender o apelo para que no início do próximo ano a gente vote", continuou o parlamentar.

A previsão era de que o PL fosse votado em plenário nesta terça. O adiamento foi uma vitória para o governo, que discorda do texto finalizado por Mendonça.

Camilo Santana se reuniu na segunda-feira (18) com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e, segundo relatos ouvidos pela Folha, conseguiu convencê-lo de que não havia consenso sobre o texto final. Foi a primeira vez que os dois se encontraram desde que Lira designou Mendonça Filho para relatar o projeto que busca alterar o modelo estipulado em 2017, quando ele próprio era ministro da Educação.

Essa designação havia causado irritação no governo e demonstrou uma relação difícil entre o presidente da Câmara e o MEC. Na semana passada, os deputados aprovaram com larga margem um requerimento de urgência do projeto, sob críticas de parlamentares da esquerda.

Isso ocorreu dias depois de o governo retirar a urgência do projeto. A urgência acelera a tramitação de uma matéria na Casa (uma vez que ele não é analisado em comissões e segue direto para o plenário).

O relatório de Mendonça, que foi ministro durante o governo Michel Temer (MDB), amplia a carga horária da parte comum, destinada a disciplinas tradicionais, mas em um nível abaixo do que o governo Lula pretendia.

O relatório prevê que, de uma carga horária total de 3.000 horas ao longo dos três anos da etapa, 2.100 horas sejam destinados para a parte comum. Isso representa um aumento com relação à disposição atual, que estipula 1.800 horas as disciplinas tradicionais (como português e matemática) —o restante fica para os chamados itinerários formativos.

No projeto do governo enviado ao Congresso, o MEC defendia que essa parte fosse de ao menos 2.400 horas. Essa foi a principal mudança do texto.

O relatório tira a obrigatoriedade do ensino de língua espanhola, defendida pelo texto do MEC, e coloca a oferta a critério das redes de ensino.

A reforma de Temer se baseia na flexibilização do ensino, com a divisão da grade em uma parte comum, voltada para disciplinas básicas (como português e matemática), e uma parte diversificada, com áreas de aprofundamento que seriam escolhidas pelos estudantes.

A prática, contudo, foi tumultuada. Desde que a implementação do novo formato se tornou obrigatória, em 2022, ocorreu uma série de problemas, relatados em reportagens da Folha: estudantes reclamam de terem perdido tempo de aula de disciplinas tradicionais; itinerários geram conteúdos desconectados do currículo; e escolas não oferecem um leque de opções de itinerários, com casos até de sorteio entre alunos.

Desde o fim da semana o deputado já não tinha segurança de que Lira cumpriria o acordo com ele de pautar de fato a votação para esta terça-feira.

A interlocutores, Mendonça não se diz disposto a recuar no ponto de maior divergência com o governo, que é a carga-horária destinada à parte comum. Isso porque, ao ampliar esse bloco no nível desejado pelo governo, a flexibilidade curricular, que norteou a reforma de Temer, ficaria comprometida.

Uma pesquisa realizada pela Unesco no Brasil mostra que é generalizada entre alunos, professores e gestores a insatisfação com as mudanças promovidas pelo novo ensino médio. Enquanto 56% dos alunos se dizem insatisfeitos, o índice é de 76% entre professores e 66% entre gestores, peças centrais do processo de aprendizagem.


VAIVÉM NO ENSINO MÉDIO

Como é o Novo Ensino Médio?

  • Reforma de 2017 ampliou a carga horária dessa etapa de 800 horas para 1.000 horas anuais, totalizando 3.000 horas ao longo dos três anos.
  • Das 3.000 horas do curso, 1.800 (60%) são reservados para uma grade comum a todos, com as matérias tradicionais, como matemática e português
  • As outras 1.200 horas (40%) são dedicadas a disciplinas dos chamados itinerários formativos, que são opções de currículos específicos, que cada aluno deveria escolher

Qual é a proposta de alteração do MEC?

  • Retoma as 2.400 horas para as disciplinas regulares
  • Destina 600 horas para os itinerários formativos

Qual é a proposta de Mendonça e dos secretários de educação?

  • Define que a carga horária para as disciplinas comuns terá um piso de 2.100 horas —sendo 300 horas flexíveis, ou seja, estados podem definir se irão usá-las com a parte de formação comum ou de itinerários formativos
  • Destina as outras 900 horas obrigatoriamente para os itinerários formativos

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