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Qual é o efeito das redes sociais no cérebro adolescente

Impacto dessas ferramentas na saúde mental dos jovens ainda não é claro

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Catherine Pearson
The New York Times

Toda geração tem seu pânico moral. Para os adolescentes de hoje –a chamada geração Z –ele reside, sem dúvida, nas redes sociais.

Alertas recentes de saúde pública têm alimentado o medo nos pais de que uma geração de crianças está condenada por estarem sempre online. As meninas, alertam as manchetes, estão sob risco especial: visitas ao pronto-socorro relacionadas a saúde mental cresceram, a ansiedade está em disparada e elas continuam sendo inundadas com imagens do "ideal de corpo magro".

Ainda assim, neurocientistas e psicólogos especializados no cérebro adolescente resumem de maneira simples: sim, as redes sociais preocupam porque o cérebro em rápido desenvolvimento pode ser especialmente vulnerável ao que as plataformas têm a oferecer. Mas a ciências não é tão conclusiva quanto algumas das manchetes mais alarmantes fazem parecer.

Grupo de adolescentes usando celulares - Yanlev/Adobe Stock

"Está é, de fato, a primeira geração verdadeiramente digital, e ainda estamos por descobrir o efeito disso", afirma, Frances Jensen, neurologista na Universidade da Pansilvânia e autora do livro "The Teenage Brain" ("O cérebro adolescente", em tradução livre).

"Podemos obter fotografias de momento", acrescenta.

O que sabemos é que o cérebro amadurece de trás para frente, um processo que começa na infância e continua na vida adulta, explica Jansen. E durante a adolescência, há uma agitação específica na parte média do cérebro que está associada a recompensas e repercussão social.

"Áreas que têm a ver com colegas, pressão social, impulsividade e emoções são muito, muito, muito ativas", afirma Jensen.

O psicólogo Mitch Prinstein, diretor científico da Associação Americana de Psicologia, diz que "além do primeiro ano de vida, esta é a mudança mais significativa e importante que acontece nos nossos cérebros em toda a vida".

Em termos científicos, o que ocorre tem a ver com as sinapses (as conexões que permitem o envio e recepção de sinais pelos neurônios), que se tornam mais fortes, enquanto conexões que não são mais necessárias são podadas. (É o "use ou perca", segundo Jensen).

Ao mesmo tempo, as conexões de longa distância entre células cerebrais de várias partes são isoladas por uma substância gordurosa conhecida como mielina, que permite que as mensagens viajem através do cérebro com muito mais eficiência. Esse processo de "mielinização" não é concluído até o meio ou final da terceira década de vida, de acordo com Jensen. Isso significa que durante a adolescência, os sinais nem sempre viajam pelo cérebro com velocidade suficiente para ajudar os jovens a regular suas emoções e impulsos, explica a médica.

Do mesmo modo, o córtex pré-frontal –que fica atrás da testa e é responsável por tarefas como avaliar consequências e planejar –ainda está amadurecendo nos anos da adolescência.

"O cérebro adolescente é como um carro que, em se tratando do desejo de aprovação social, tem um pedal de aceleração hipersensível, mas freios que não funcionam tão bem", diz Prinstein, que testemunhou sobre o assunto no Senado estadunidense no início do ano. "O centro de inibição do cérebro que diz 'talvez você não devesse seguir todo desejo e instinto' não está completamente desenvolvido".

Embora pesquisadores conheçam muito melhor o desenvolvimento do cérebro adolescente hoje do que há uma década, segundo Prinstein, provar relação de causa e efeito entre o uso redes sociais e consequências negativos na saúde mental é difícil. Estudos sobre bem-estar e redes sociais foram considerados inconsistentes ou inconclusivos após revisões.

Alguns estudos tentaram medir a questão diretamente usando imagens do cérebro, incluindo um artigo de autoria de Prinstein publicado em janeiro, que descobriu que adolescentes de 12 anos com o hábito de verificar suas redes sociais constantemente sofrem mudanças em áreas do cérebro associadas com recompensas sociais, embora não esteja claro o que causou essas alterações ou o significado delas.

Especialistas que estudam adolescentes e redes sociais têm observado que meninas são mais atingidas pela atual crise de saúde mental. Eles dizem que hormônios femininos podem ter um papel, mas a conexão com o uso de redes sociais não foi cientificamente comprovada. "Os hormônios estão modificando este processo de maneiras que não entendemos completamente", afirma Jensen.

A médica aguarda ansiosamente os resultados de estudo sobre o Desenvolvimento Cognifico e Cerebral do Adolescente (ou estudo A.B.C.D., na sigla em inglês) financiado pelo Instituto Nacional de Saúde, que está usando tecnologia de imagem cerebral para mostrar como o desenvolvimento é afetado por uma série de experiências, incluindo diferentes tempos de exposição a telas.

Os pesquisadores ainda estão acompanhando os participantes do estudo A.B.C.D no início da vida adulta. Para Jensen, a paisagem em constante mudança das redes sociais demonstra como o tema é difícil de ser estudado. Os aplicativos e sites que os jovens usam hoje são diferentes dos que eram populares há alguns anos.

Ainda assim, tanto Jensen quanto Prinstein notaram que as redes sociais não são inerentemente boas ou runs –um sentimento ecoado até mesmo por recentes alertas de saúde. Em vez disso, eles buscam enfatizar que as mudanças que ocorrem nos cérebros de adolescentes os podem torná-los particularmente atraídos por estas plataformas e mais suscetíveis a potenciais armadilhas.

Quando surge a obsessão em pré-adolescentes sobre suas vidas sociais - falando sem parar sobre seus colegas e quem senta na "mesa popular" –isto é um sinal de que eles estão amadurecendo normalmente, diz Prinstein.

"É assim que os cérebros deles deveriam se desenvolver, com base em séculos de contexto social em que nós todos crescemos", diz ele. Mas agora, adolescentes estão experimentando essas mudanças em um mundo online que "está criando a oportunidade de recompensas e repercussão social incessantes", acrescenta. "É essa combinação que nos preocupa".

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