Uma península em uma cidade de apenas 21 mil habitantes, localizada a cerca de 60 km do centro de Moscou, será a casa de Lionel Messi e companhia durante toda a Copa do Mundo da Rússia.

O município de Bronnitsi foi o escolhido pela associação de futebol argentino, a AFA, como QG da seleção. Ele fica próximo a dois aeroportos, o de Domodedovo e do Jukovski (30 km para cada um), o que facilitará as viagens para Nijni Novgorod e São Petersburgo, onde enfrenta Croácia e Nigéria, respectivamente.
A estreia, dia 16, contra a Islândia, será em Moscou. 

A cidade tem ares provincianos, e o ponto de encontro é uma praça em frente a uma bela igreja ortodoxa de cúpula azul, a principal e praticamente única atração turística.

A menos de 2 km dali fica a base na qual treinará e se hospedará um dos maiores astros do Mundial. Chegar até ela é bem fácil em dias comuns. Basta cruzar a pé ou de carro uma ponte sobre o lago Belskoie.

Mas isso deve mudar depois de sábado (9), quando os argentinos chegaram.

A península, entre este lago e o rio Moscou, onde fica o Centro de Treinamento Olímpico, será fechada para o tráfego de pessoas e automóveis. Só credenciados poderão se aproximar, e isso em horários específicos.

Cerca de 100 homens da Guarda Nacional Russa, da polícia e de empresas privadas farão a segurança.
Nos dias de jogos e de viagens, está acertado que o ônibus da delegação terá escolta para furar o trânsito nos arredores de Moscou, que muitas vezes é caótico.

Isolamento é a palavra-chave e foi um desejo do técnico Jorge Sampaoli. Nem mesmo da ponte será possível ver algo.

Todas as grades que cercam os campos de treinos foram cobertas com lonas, como a Folha pôde verificar no fim de maio, ao passar pelo local, uma vez que a visita à área interna não foi autorizada pela AFA.

Quando Sampaoli anunciou os 23 convocados para o Mundial, o presidente da associação, Claudio Tapia, não estava em Buenos Aires. Ele havia embarcado para a Rússia para fazer inspeção final nas obras e instalações.

O CT, inaugurado em 2013, passou por uma grade reforma para ser a base dos argentinos. Cerca de US$ 1 milhão (R$ 3,78 mi) foi investido para atender às exigências da AFA.

A verba é toda do governo russo e faz parte do orçamento de US$ 4,2 bilhões (R$ 15,9 bi) disponibilizados para construção e melhoria de infraestruturas esportivas.

Um campo novo com refletores e arquibancadas para 500 pessoas foi construído, além de vestiários e espaço para entrevistas coletivas.

Será neste local que também vai acontecer o treino aberto exigido pela Fifa. Ele ocorrerá nesta segunda-feira (11).

No prédio principal, os 70 apartamentos passaram por melhorias, assim como a piscina, academia e o local para sauna. Uma área especial perto do rio Moscou também foi construída para que os atletas e membros da comissão possam fazer churrasco. As imagens foram mostradas à reportagem pelo prefeito de Bronitssi, Viktor Nevolin.

Nos arredores do CT, houve trabalhos para pavimentar as vias de acesso e calçamento para pedestres.
“São coisas pontuais. Não fizemos grandes mudanças na cidade para receber a Argentina, nem nos preparamos exclusivamente para a Copa. As melhorias são para nossos cidadãos. Instalamos novos semáforos também e colocamos cem câmeras de segurança para monitorar quem está aqui”, disse Nevolin.

Bronnitsi é tão pequena que não conta com hotéis. Os mais próximos ficam a mais de 10 km. São também poucos restaurantes ou cafés, mas uma exigência foi feita pela prefeitura a eles: que tenham cardápio em inglês para facilitar a vida dos jornalistas que irão diariamente ao município. Voluntários da Fifa que falam mais de um idioma trabalharão na cidade e no CT.

Com exceção do dia do treino aberto, o prefeito de Bronnitsi não espera um grande fluxo de torcedores argentinos à cidade. “O que eles poderiam fazer aqui? Todos os treinos serão fechados e não poderão chegar perto. Imagino que o fluxo será grande sim onde a Argentina jogar, mas se quiserem vir aqui serão todos bem-vindos.” Segundo a Folha apurou, Bronnitsi foi a segunda escolha da Argentina.

A ideia era ficar no CT de Borski, nas redondezas de Nijni Novgorod, que será casa do Uruguai e também preza pelo isolamento. Porém, como não havia garantia que um segundo campo estaria pronto (o que acabou acontecendo), houve mudança de plano.

Em 2014, na Copa no Brasil, a Argentina se isolou na Cidade do Galo, em Vespasiano, município da Grande Belo Horizonte com pouco mais de 115 mil habitantes.

Apesar de pequena, Bronnitsi tem vocação esportiva e isso é propagado em um grande outdoor na rua Soviestkaia, a principal da cidade. 

O CT onde ficará a Argentina é usado como base da seleção de taekwondo para treinamentos e outras lutas. Além disso, o município conta com um centro de esporte para crianças e adolescentes onde há aulas de esgrima, ginástica artística e futebol, entre outros. No lago Belskoie, há prática de canoagem.

Bem perto de onde Messi treinará há um campinho de futebol bem conservado, com grama e traves.
Lá os times da cidade em categorias que vão dos 10 aos 18 anos fazem seus treinos. É lá também que jovens fora destes times jogam suas peladas.

Eles já estão à espera de Messi e querem ter a chance de ver de perto o ídolo argentino do Barcelona. A melhor oportunidade será o treino aberto para o qual a prefeitura distribuirá 300 ingressos.

“Somos uma cidade muito pequena e é incrível que venham aqui, algo muito chique para nós. Amo ver o Messi jogando, seja pelo Barcelona ou pela Argentina. Quero vê-lo” disse Mikhail Chekhold, 16.

“Adoro o Messi e saber que ele estará aqui é fantástico. Eu adoro futebol. Irei em jogos da Copa com meu pai”, disse Aleksandr Pavlov, 14.