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Entrar na zona de dor e angústia de quem perdeu um filho é delicado

O caminho até fotografar o pai do goleiro Christian, 15, morto no incêndio no Ninho do Urubu

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Cristiano Estério, pai do goleiro Christian, morto no incêndio no Ninho do Urubu, no Rio. Cristiano também é pai dos gêmeos Lavínea e Leandro, que tinham o irmão como ídolo - Zô Guimarães/Folhapress

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Zô Guimarães
Rio de Janeiro

​Minha missão naquela manhã de quinta-feira (14) era fotografar Cristiano Esmério, pai do goleiro Christian, 15, que havia morrido na sexta anterior (8) no incêndio no Ninho do Urubu.

É delicado entrar na zona da dor alheia, da angústia de quem perdeu um filho em uma tragédia —principalmente quando essa dor traz um misto de consternação e injustiça. Tinha sido uma semana difícil no Rio, com muitas tragédias, e a sensação de que a maioria delas poderia ter sido evitada.

Cheguei ao bairro de Colégio, na zona norte do município do Rio, por volta de 10h30. Esperei na entrada da comunidade de Para Pedro, o ponto de encontro combinado com o pai de Christian, para podermos seguir para sua casa.

“Desculpa te deixar esperando, busquei as crianças na creche, tive que deixá-las em casa antes de vir buscar você”, diz ele, referindo-se ao casal de gêmeos Lavínia e Leandro, de 3 anos, fruto do relacionamento com sua atual mulher, Laís.

Ele me conta que avisou a comunidade da minha chegada, já que imaginou que eu levaria equipamento de fotografia.

Na sala pequena da casa de dois cômodos, fotos da família se misturam com medalhas e troféus de Christian e muitas fotos do menino.

A sessão de fotos acontece  enquanto conversamos e, às vezes, parece que a dor não deixa espaço para o silêncio. Os dois me mostram fotos que Christian lhes mandava do dia a dia de treinamento no Ninho do Urubu.

Ao fim, tomamos um café e descemos as escadas que dão para a viela que leva à rua. 

No corredor, assusto-me com um barulho que me parece ser de tiros. Cristiano me diz que são fogos de artifício, mas que, mesmo assim, é melhor esperar um pouco antes de sairmos.

Na rua, há crianças voltando da escola e motos subindo e descendo —um dia normal na comunidade do Para Pedro. 

Na curva, entendo o motivo dos fogos: é um código para avisar que a polícia estava chegando. Enquanto descemos a ladeira, policiais apontam seus fuzis na nossa direção.

“Sai da rua, anda no canto” diz Cristiano para mim, com o filho de três anos no colo. Ele fica aliviado ao perceber que não tinha esquecido a carteira com o documento de identidade em casa.

Chegamos à mesma esquina onde havíamos nos encontrado e nos despedimos. 

Naquele momento, a poucos quilômetros de Para Pedro, em Triagem, morria baleada a menina Jenyfer Cileni, 11, em frente ao bar da mãe, em mais um dia corriqueiro nas favelas cariocas.

Zô Guimarães é fotógrafa

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