Nadadores brasileiros vão a Tóquio após seletiva 'à flor da pele'
Chance única de ir aos Jogos Olímpicos, chuva e doping marcam evento no Rio
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O modelo de seletiva única adotado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) para a classificação aos Jogos de Tóquio privilegia quem desempenha melhor sob pressão, mas não gerou consenso entre os atletas. A certeza é que trouxe diferentes emoções e opiniões para os nadadores.
O evento na piscina do Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro, terminou na noite deste sábado (24), com a classificação de 18 representantes para a Olimpíada.
Também foi marcado pelos dias de chuva e pela revelação do caso de doping de André Calvelo, 20. O jovem foi flagrado com uma substância proibida fora da competição, ainda em março, mas a suspensão preventiva veio à tona nesta sexta, um dia após ele fazer o melhor tempo nos 100 m livre.
Calvelo então deu lugar a Gabriel Santos, 24. Nono colocado das eliminatórias e sem participar da final na quinta, ele ganhou a chance de fazer tempo sozinho na água neste sábado, batendo o índice individual e ficando com a vaga em aberto no revezamento.
Campeã mundial nos 50 m costas (prova não olímpica), Etiene Medeiros, 29, começou a seletiva decepcionada por não conseguir o índice nos 100 m do mesmo estilo.
“É bom a gente falar que não está sendo fácil. É o segundo dia e parece que já foram dez. A expectativa é muito grande, não é coisa de um ano, são cinco, é um peso grande de obrigação, de raiva, tristeza, tudo que a gente está passando, muito peso que a gente tem dentro da piscina”, afirmou.
Ela teve sua última chance de ir a Tóquio pelas provas individuais neste sábado, nos 50 m livre, em que foi finalista na Rio-2016, mas não bateu o índice. Os revezamentos femininos ainda dependem da comparação com os tempos de equipes de outros países em seus eventos pré-olímpicos para definição de vagas.
Dos mais experientes aos mais novos, os atletas ressaltaram o nervosismo que sentiram durante a seletiva e a pressão de ter apenas uma chance de conseguir um lugar no maior evento esportivo do mundo, após um ano vivendo a pandemia, com dificuldade para treinar e quase sem conseguir competir.
“Fica tudo à flor da pele”, comentou Luiz Altamir, 24, classificado na equipe do revezamento 4 x 200 m livre.
Mesmo assim, a maioria reconheceu que a pressão faz parte de suas rotinas e que os atletas precisam estar preparados para isso.
Beatriz Dizotti, 21, que conseguiu a vaga nos 1.500 m livre com a melhor marca do país na prova (16min22s07), chegou a abdicar de campeonatos para não correr risco de pegar Covid-19.
Ela contou na quinta-feira que encarou a seletiva de forma leve. “Vou ser bem sincera, hoje eu só nadei para me divertir, fiquei bem tranquila. Acho que se eu colocasse à frente o peso de pegar índice e bater o recorde brasileiro, o tempo não seria esse.”
“Nunca fiquei tão nervoso na minha vida como fiquei hoje [quinta]”, disse, em contraste, Pedro Spajari, que vai competir nos 100 m livre em Tóquio, tanto na prova individual como no revezamento 4 x 100.
Aos 24 anos, ele foi o segundo melhor de uma forte final (liderada por Calvelo) e bateu o experiente Marcelo Chierighini, finalista da Rio-2016 e quatro vezes de Mundiais nessa prova.
Aos 30 anos, Chierighini resumiu a montanha-russa de emoções que sentiu durante a seletiva, quando passou de estar feliz pelas conquistas da nova geração de nadadores à decepção por não conseguir concretizar a performance desejada e ficar fora da disputa individual no Japão.
“Isso aqui foi atípico. Não gosto de dar desculpa, mas foi esquisito. Não sei colocar em palavras esse clima, nadei mal, muito preso de manhã [nas eliminatórias]. Tomei a decisão e mudei a característica da minha prova [na final noturna, que valia a vaga] para pegar o revezamento”, afirmou.
Se em Tóquio a piscina será coberta e fechada, a seletiva nacional foi disputada no Maria Lenk, local aberto e suscetível às intempéries climáticas como chuva e vento.
“Sinceramente, não vejo tanta diferença, sempre me acostumei com piscina aberta. Claro que é mais frio e o dia chuvoso atrapalha um pouco, mas acho que não foi o caso”, afirmou Murilo Sartori, 18, que vai integrar a equipe brasileira no revezamento 4 x 200 m livre.
A história é diferente para quem nada de barriga para cima. Mesmo se for alguém tão experiente como Guilherme Guido, 34, que vai para sua terceira edição dos Jogos no nado costas. Em Tóquio, pela primeira vez terá um compatriota ao seu lado, Guilherme Basseto, dez anos mais novo.
“O meu resultado com certeza seria melhor se fosse piscina interna. Eu nadei preocupado em não bater na raia, totalmente desorientado, não sabia se estava no meio [da raia]. É um desgaste energético desnecessário, a conta chega no fim da prova”, disse.
“Já é preocupante uma seletiva única, na minha visão, ainda mais nas condições que tivemos. Queremos imitar os grandes países, mas as condições daqui hoje não são as mesmas que vamos ter em Tóquio”, completou.
A falta de ritmo, muito em razão da pandemia, também foi lembrada pelos nadadores. “Comparando o Brasil com outros países, a gente está muito longe ainda de ser uma nação competitiva no sentido de ter mais competições na temporada”, analisou Luiz Altamir.
Ana Marcela Cunha, 29, até conseguiu a classificação para disputar os 1.500 m em Tóquio, mas abriu mão para focar a maratona aquática, sua prova principal.
“Tudo tem prós e contas. Nos Jogos Olímpicos eu só vou ter uma chance, então acredito que todo mundo se preparou muito para isso, apesar de tudo o que aconteceu neste ano, a pandemia, dificuldades para treinar”, afirmou.
Sua vaga ficará com Betina Lorscheitter, terceira colocada na seletiva, ou Viviane Jungblut, ex-recordista nessa prova, que fará sua tomada de tempo em junho —exceção aberta para quem teve Covid recentemente.
Ana Marcela ainda pede mais uma oportunidade nas categorias que não tiveram nenhum classificado. “Acredito que a gente quer sempre a melhor seleção possível. Por que não pensar em dar mais uma chance [aos nadadores] para as provas que estão em aberto [sem dois atletas com índice]?”, questiona.
A seletiva também confirmou a classificação da melhor chance de medalha do Brasil nas piscinas. Bruno Fratus, 31, mora nos EUA e pôde fazer índice no país há duas semanas.
Sem ser superado por ninguém que nadou os 50 m livre no Rio, ele carimbou a vaga para o Japão e será o único representante do país na prova.
"Sem palavras. Estou frustrado, muito frustrado, não sei bem o que dizer", disse Spajari, que lamentou não ter uma nova chance nessa distância.
Classificados para a Olimpíada até agora
Bruno Fratus - 50 m livre
Guilherme Costa - 400 m, 800 m e 1.500 m livre
Felipe Lima - 100 m peito e 4 x 100 m medley
Fernando Scheffer - 200 m livre e 4 x 200 m livre
Breno Correia - 200 m livre, 4 x 100 m e 4 x 200 m livre
Murilo Sartori - 4 x 200 m livre
Luiz Altamir - 4 x 200 m livre
Guilherme Basseto - 100 m costas e 4 x 100 m medley
Guilherme Guido - 100 m costas
Leonardo de Deus - 200 m borboleta
Pedro Spajari - 100 m livre e 4 x 100 m livre
Marcelo Chierighini - 4 x 100 m livre
Beatriz Dizotti - 1.500 m livre
Betina Lorscheitter - 1.500 m livre
Caio Pumputis - 200 m medley
Vinicius Lanza - 200 m medley
Matheus Gonche - 100 m borboleta e 4 x 100 m medley
Gabriel Santos - 100 m livre e 4 x 100 m livre
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