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Resultados da China na natação em Paris levantam mais dúvidas sobre doping

Defesa de nadadores com histórico de testes positivos costuma alegar contaminação por alimentos

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Jenny Vrentas
Nanterre | The New York Times

Depois de conquistar uma medalha de bronze na piscina olímpica de Paris nesta sexta-feira (2), o nadador chinês Wang Shun não pôde mais evitar as perguntas. Ele havia se recusado a falar com jornalistas após as provas classificatórias, mas uma medalha significava uma coletiva de imprensa. E uma coletiva de imprensa significava que haveria perguntas sobre doping chinês.

"Acho que todos esses resultados de teste provaram minha inocência", disse Wang por meio de um tradutor após a prova de 200 metros medley individual masculino. Ele foi testado para drogas em média duas vezes por semana antes da seletiva olímpica da China, afirmou, e 11 vezes nas duas semanas antes do início dos Jogos em Paris.

Leon Marchand, francês medalhista de ouro, ao lado do chinês Wang Shun, que ficou com o bronze na prova dos 200 m medley masculino, em Paris-2024 - NYT

À medida que a competição olímpica de natação chegava ao fim neste domingo (4), o esporte continuava lidando com a desconfiança persistente após a revelação de dezenas de testes de drogas positivos entre nadadores chineses nos últimos anos e defesas que alegavam contaminação por alimentos.

Essas explicações foram aceitas pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), que não divulgou os resultados positivos ou puniu os atletas. Doze nadadores chineses conhecidos por terem testado positivo anteriormente para uma substância proibida, incluindo Wang, competiram nas Olimpíadas de Paris.

O bronze de Wang foi uma das 12 medalhas conquistadas por chineses na França —em Tóquio-2020, foram apenas seis. Apesar do número dobrado, o total ficou aquém em ouros.

Nesse cálculo, com duas medalhas douradas, os nadadores chineses ficaram atrás do desempenho em Tóquio e não alcançaram as altas expectativas que tinham.

A desconfiança sobre suas performances, porém, permanece. O Comitê Olímpico Internacional (COI) disse que os nadadores chineses foram os mais testados entre todas as equipes de todos os esportes olímpicos.

Yang Junxuan, nadador de estilo livre, que assim como Wang testou positivo em duas ocasiões anteriores, disse que seus resultados falavam por si mesmos.

Qualquer fator —treinos, idade, a distração dos testes aumentados— poderia ter afetado os resultados da equipe, mas uma conclusão clara destas Olimpíadas é que a nova realidade para os nadadores chineses é que eles serão testados com mais frequência e que seu sucesso continuará a ser examinado.

Parte desse escrutínio foi direcionado a Pan Zhanle, que venceu os 100 metros livre masculino na quarta-feira com recorde mundial —um dos únicos dois recordes mundiais individuais estabelecidos na piscina de Paris.

Depois que Pan terminou mais de um segundo à frente do medalhista de prata, o treinador e ex-nadador olímpico australiano Brett Hawke sugeriu em um vídeo nas redes sociais que não era "humanamente possível" vencer a final olímpica de um evento de velocidade com vantagem de um corpo à frente.

Pan também participou do revezamento 4 x 100 metros medley masculino, prova que os Estados Unidos perderam pela primeira vez em Olimpíadas. Pan garantiu um segundo ouro para a China com uma parcial de estilo livre que foi mais de um segundo mais rápida do que qualquer um de seus concorrentes.

Pan Zhanle comemora após vencer os 100 m livres e estabelecer o novo recorde mundial em Paris - NYT

O jovem de 19 anos, Pan, no entanto, não está entre os nadadores conhecidos por terem testado positivo para uma substância proibida. Após sua prova de 100 metros livre, ele disse que foi testado 21 vezes de maio a julho. Sua colega de equipe, Zhang Yufei, que anteriormente disse estar preocupada sobre a possibilidade de os competidores e torcedores olharem de forma diferente para nadadores chineses, chamou de injusto as dúvidas a respeito de Pan.

"Por que os atletas chineses precisam ser suspeitos quando nadam muito rápido?", questionou Zhang, acompanhada por um tradutor, após conquistar o bronze nos 200 metros borboleta feminino. "Por que não desconfiaram de Michael Phelps quando ele ganhou sete ou oito medalhas de ouro?"

Wang e Zhang, que em Paris adicionaram seis medalhas (mas nenhum ouro) ao seu currículo, estavam entre os 23 nadadores chineses que o The New York Times relatou terem testado positivo para o medicamento cardíaco prescrito trimetazidina, ou TMZ, antes das Olimpíadas de Tóquio. Mas eles foram secretamente liberados e permitidos a continuar competindo.

Zhang ganhou quatro medalhas em Tóquio, incluindo dois ouros, e Wang saiu vencedor dos 200 metros medley.

Wang também foi um dos três nadadores chineses que testaram positivo vários anos antes para uma substância proibida diferente, juntamente com Yang e o nadador de peito Qin Haiyang.

Qin teve uma das performances individuais mais decepcionantes da China na França, sem medalhas em nenhuma das provas de nado peito vencidas por ele nos campeonatos mundiais do ano passado. Nos 200 metros peito, em que ele detém o recorde mundial, Qin não chegou nem à final. Ele atribuiu o mau resultado à alta pressão que recebe.

Na semana passada, o NYT relatou um terceiro incidente anteriormente não divulgado no qual dois nadadores chineses, incluindo uma que ganhou o bronze no revezamento 4 x 200 metros livre feminino em Paris, testaram positivo para outra droga proibida em 2022.

Wang Shun durante prova dos 200 m medley masculino, em Paris-2024 - NYT

Em resposta, a Wada reconheceu preocupar-se quanto ao número de casos de doping encerrados sem punições, por não ser possível contestar a alegação de que os testes positivos eram resultado de contaminação.

Yu Yiting, que ganhou duas medalhas de bronze em revezamento e terminou em quarto lugar nos 200 metros medley feminino, disse em uma entrevista traduzida que ficou "bastante surpresa" quando descobriu que testou positivo para TMZ antes dos Jogos de Tóquio.

Ela disse que o grupo de 23 nadadores, que segundo as autoridades chinesas teriam ingerido a substância proibida na cozinha contaminada de um hotel, cooperou com a investigação e relatou tudo o que foi consumido durante a hospedagem.

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