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Redação da Folha já serviu como cenário de filmes e séries de TV

Produções exploram a arquitetura da sede do jornal para retratar a rotina de jornalistas

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São Paulo

Qualquer pessoa que um dia conhecer a Redação da Folha, especialmente em horários mais próximos do final da tarde, quando o fechamento das edições impressas está a todo vapor, talvez se lembre de algum dos muitos filmes e séries sobre jornalismo que há por aí. Vai se ver no meio de todo tipo de clichê possível: o corre-corre de gente entre mesas apinhadas de papel e, especialmente, a cacofonia que mistura o bater de teclas, alguma gritaria e o som incessante do telefone.

(Isso tudo, é claro, na realidade dos anos pré-pandemia, quando o vírus ainda não nos havia condenado quase todos ao home-office.)

Não é tão inusitado, portanto, que esse espaço tenha servido de cenário a tantas produções nacionais (e uma internacional), que usaram a sede na Folha, na alameda Barão de Limeira, como locação para seus filmes e séries.

Na ficção, a obra que mais se utilizou das dependências do jornal foi "Assédio", disponível no Globoplay. A partir do sexto episódio da série, que estreou em 2018, são várias as cenas que foram gravadas na Redação. É lá que trabalha a incansável repórter Mira Simões, interpretada por Elisa Volpatto, enquanto apura as denúncias de estupro contra um médico famoso chamado Roger Sadala, papel de Antonio Calloni.

Mira circula pelos corredores do jornal —chamado na ficção de Tribuna de São Paulo— e, principalmente, passa madrugadas adentro em frente ao seu computador fazendo incontáveis pesquisas e escrevendo dezenas de textos sobre o andamento do caso envolvendo Sadala. Para efeitos dramáticos, os responsáveis pela série acrescentaram detalhes que não condizem exatamente com a realidade. Por exemplo, o fato de a personagem se encontrar às vezes sozinha no meio da noite numa redação que traz suas luzes todas apagadas.

Não é bem assim que as coisas se passam na rotina da Folha. Há uma equipe de plantonistas para a madrugada, de modo que é impossível presenciar uma cena como a mostrada na série, em que o jornal está completamente esvaziado e num breu.

Mas há que se reconhecer alguma fidelidade. A personagem está em constante luta para entregar seus textos em tempo para o fechamento do jornal e só consegue publicar reportagens depois que elas estão devidamente apuradas.

Vale dizer que a ambientação da série na Folha também tem outro significado. Foi nas páginas deste jornal que o caso Abdelmassih veio à tona. A repórter Lilian Christofoletti descobriu que a Delegacia de Defesa da Mulher e o Ministério Público do Estado de São Paulo estavam investigando denúncias de crimes sexuais praticados pelo médico, então conhecido como um dos pioneiros da fertilização in vitro no país. A reportagem foi publicada em janeiro de 2009.

​O diretor Luiz Villaça foi outro que usou as dependências da Folha como cenário de um jornal fictício. É ali que trabalha Fábio, papel de Domingos Montagner, na comédia romântica "De Onde Eu Te Vejo" (2016). Quando o filme começa, descobrimos que ele acaba de se separar de Ana (Denise Fraga) e está se mudando para um apartamento num prédio em frente ao da ex-mulher.

A proximidade física do agora ex-casal é o que move essa história de desencontros, encenada em vários lugares do centro de São Paulo. Fábio é um jornalista que bate no peito sobre o tanto que suas solas são gastas em reportagens na rua. Sua colega Olga, interpretada por Marisa Orth, é do tipo mais resignado, que lamenta o tanto que perdeu da pigmentação natural de seu cabelo debaixo da luz branca da Redação.

Os dois amigos são vistos perambulando pelos corredores do jornal, passando pela indefectível escadaria pintada de laranja —na primeira cena, queixando-se de desilusões amorosas; na segunda, reclamando das agruras da profissão. Um retrato realista, de fato.

Redação da Folha durante pandemia de coronavírus em 2020 - Eduardo Knapp/Folhapress

Até mesmo a distopia gringa "Black Mirror" tirou uma casquinha e teve algumas das cenas de "Striking Vipers", primeiro episódio da quinta temporada da série, filmadas na Folha. A produção britânica, que faz troça imaginando mil conjecturas sobre o futuro da humanidade e da tecnologia, usou São Paulo como locação para esse capítulo, que fala de dois rapazes que são só amigos na vida real, mas que viram amantes quando na pele de seus avatares de um videogame.

O ator americano Anthony Mackie, o super-herói Falcão dos filmes da Marvel, vive o personagem principal, Danny. O sujeito é um trintão casado e com filhos e que tem uma espécie de vida paralela quando escala Lance (Ludi Lin) como sua persona num jogo de luta. Isso porque, na realidade do game, o lutador se engraçou com Roxette (Pom Klementieff), a persona escolhida por Karl​ (Yahya Abdul-Mateen II), melhor amigo de Danny —o que fará com que os dois "buddies" se vejam num dilema.

Não fica claro na trama qual é a profissão de Danny, mas as cenas em que ele aparece trabalhando foram filmadas nas dependências da Redação, não raro momentos em que o personagem está divagando, meio angustiado, por não saber como lidar com o amigão.

Num dos trechos, ele aparece um tanto alheio no meio de uma reunião que foi filmada justamente na mesma sala em que ocorrem as reuniões entre os editores do jornal e nas quis são discutidos os principais assuntos do dia e o destaque que serão dados a eles na Folha.

Em outra cena, Danny aparece mais uma vez aturdido, desta vez diante de um computador onde funcionava a revista Serafina. Enquanto o personagem está pensativo, ouvimos o som dos telefones, que não é exatamente o mesmo que se ouve na Redação, mas é igualmente incessante.

A Folha não é mero cenário, mas protagonista, no documentário "Não Estávamos Ali para Fazer Amigos", de Miguel de Almeida e Luiz R. Cabral. O filme de 2015 registra um momento muito específico da história da Ilustrada, o caderno de cultura do jornal, em meio aos estertores da ditadura militar e os primeiros anos da redemocratização, nos anos 1980.


O período coincide com a implantação do chamado Projeto Folha, que modernizou os procedimentos no veículo, instituindo um manual da redação e consagrando os princípios do apartidarismo, do pluralismo e do jornalismo crítico como os três mantras que permeiam todo o funcionamento da organização. Foi nesse período que a Folha se tornou o jornal de maior circulação no Brasil.

Por meio de entrevistas com jornalistas e artistas, Miguel de Almeida, que trabalhou na Ilustrada na época, rememora como o caderno de cultura se firmou como um ninho de iconoclastia na imprensa nacional empreendendo uma crítica às vacas sagradas do establishment brasileiro e atentando-se para manifestações mais underground, como o despontar dos punks, e a efervescência de movimentos como o da Vanguarda Paulista.

Embalada por jornalistas egressos dos movimentos estudantis e das publicações alternativas, essa renovação teve muito a ver, como mostra o filme, com o período de reabertura política e uma espécie de reação ao oficialismo da esquerda nacionalista, que começava a perder o monopólio da produção cultural no país graças ao abrandamento dos ânimos.

O recorte do filme prossegue até os anos Sarney, quando o próprio presidente da República determinou a censura ao filme "Eu Vos Saúdo, Maria", de Godard, atendendo a clamores da Igreja Católica. A Folha organizou uma sessão do filme, na sede do jornal, que se tornou a primeira exibição pública do longa no Brasil. Os tempos passaram, mas uma boa parte desse DNA rebelde se mantém na Ilustrada.​

Recorte bem mais recente é o do documentário "Cercados", lançado neste ano, que acompanha os bastidores da cobertura jornalística da pandemia da Covid-19 e os obstáculos impostos pelo próprio governo ao trabalho dos repórteres. A Folha tem papel central.

O diretor Caio Cavechini registra, por exemplo, o presidente Bolsonaro um tanto destemperado bradando que a imprensa é patife e mentirosa e insuflando seus apoiadores a agredir os repórteres que cobrem a rotina no Palácio do Planalto.

Num dos trechos, Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, comenta a decisão de não mais enviar jornalistas ao cercadinho do Alvorada, enquanto Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha, fala da iniciativa de veículos brasileiros de imprensa de montar um consórcio para contabilizar vítimas do coronavírus no momento em que o governo deixou de divulgar esses dados.

O documentário também permite acompanhar um pouco da rotina dos repórteres que cobrem o Planalto, entremeando cenas de redações esvaziadas por causa da quarentena —a da Folha exibe incontáveis post-its colados aos computadores por gente que, possivelmente, não imaginaria ficar tantos meses longe daquele ambiente tão caótico, mas tão vibrante.

Assédio
Diretoras: Joana Jabace e Amora Mautner. Onde ver: No Globoplay
A série de ficção, inspirada no caso Abdelmassih, traz como personagem uma jornalista inspirada na repórter da Folha que primeiro noticiou as acusações de abuso sexual contra o médico e teve cenas gravadas no interior do jornal

Black Mirror
Episódio: "Striking Vipers". Onde ver: Na Netflix
Na série distópica, a Redação faz as vezes do local em que trabalha o protagonista, um sujeito que de uma hora para a outra se vê envolvido com o melhor amigo quando ambos estão na pele de seus avatares num jogo de videogame

Cercados
Direção: Caio Cavechini. Onde ver: No Globoplay
O documentário lançado em 2020 acompanha os primeiros meses de cobertura jornalística da pandemia de Covid-19 a partir de bastidores de diversos veículos de imprensa, inclusive a Folha, e dos embates com o governo Bolsonaro

De Onde Eu Te Vejo
Direção: Luiz Villaça. Onde ver: No Globoplay
Após se separar, Fábio se muda para um apartamento do outro lado da rua, de onde continua testemunhando a rotina de sua ex-mulher, enquanto concilia sua rotina de repórter num jornal fictício que usou a Folha como cenário

Não Estávamos Ali para Fazer Amigos
Diretores: Miguel de Almeida e Luiz R. Cabral. Onde ver: no YouTube, no canal do diretor Luiz R. Cabral
O documentário entrelaça a efervescência artística do país no período de distensão política, nos anos finais da ditadura, com a história da Ilustrada, a editoria de cultura da Folha, marcada pela iconoclastia e pelo espírito contestador

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