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Documentário 'Vinte Anos' apresenta uma visão original da gente de Cuba

Filme aborda três famílias que se formam em 1992, no coração do chamado 'regime especial'

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Vinte Anos

Avaliação: Bom
  • Quando: Estréia nesta quinta (26)
  • Classificação: Livre
  • Produção: Brasil (2018)
  • Direção: Alice de Andrade

V​eja salas e horários de exibição

Sobre Cuba costumamos ter opiniões definitivas, contra ou a favor, mesmo sem nunca ter posto os pés por lá. Talvez a originalidade de “Vinte Anos” se deva ao fato de Alice de Andrade, autora do filme, não demonstrar o menor interesse em julgar o regime político de Fidel Castro e sucessores.

Bem ao contrário: os 20 anos do título dizem respeito basicamente à existência de três famílias que se formam em 1992, portanto no coração do chamado “regime especial”, isto é, os duros anos em que, com o fim da URSS, Cuba tem de sobreviver por conta própria.

 

Embora a documentarista diga que este é um filme sobre o tempo (que passa), “Vinte Anos” por vezes constata uma curiosa imobilidade: as ruas continuam iguais, ou quase, os carros são as mesmas “latas velhas” a que se refere um dos personagens etc.

E quanto aos casais? Cada qual encontrou uma solução para os problemas econômicos angustiantes do ano de seu casamento. Um deixou o emprego no governo para se dedicar às ervas medicinais (e assim segue). Outro emigrou para Miami, de onde volta para reencontrar a família.

Essas caminhadas são sempre cheias de percalços. Quem fica em Cuba trabalhou sete anos nos mutirões para ter direito a uma casa própria de que nem gosta tanto assim. Quem foi para Miami trabalhou como burro de carga (o marido diz que chegou a ter três empregos simultâneos), mas obteve uma vida confortável.

Existem também os descendentes, como a instrumentista que emigra para a Costa Rica, pensa algo do tipo “ufa, consegui sair”, mas depois sente saudades do país. De todo modo, o que uma família recebe de sua descendente no exterior ajuda a reformar a velha casa.

A casa, aliás, parece ser um centro de preocupações acentuado: existe, por exemplo, um programa de TV dedicado a propostas de compra, venda e troca de moradias. Sintoma da modéstia da sociedade de consumo em sua versão cubana, que aparece de várias formas e em diversos momentos do filme.

A partir deles, a diretora parece dizer: julgue como quiser, o que tenho a mostrar de Cuba é isso. Ou seja: nada de adeptos da revolução (ou quase nada), nada de opositores. “Vinte Anos” parece mais interessado em mostrar coisas como a diversidade religiosa, a diversão das crianças, alguma dança (fora dos clichês).

Se se quiser fazer um julgamento de Cuba a partir das imagens deste filme, aí vai um: em termos existenciais, os horizontes dos cubanos parecem reduzidos pelo atroz isolamento, pela falta de troca, enfim por tudo aquilo que os limita ao trabalho e à moradia, além de alguma diversão.

Em compensação, o filme nos mostra um país em que preocupações tão nossas, como a violência e a ganância, parecem inexistir.

“Vinte Anos” parece descuidar do que é passageiro para se fixar no que permanece, imutável: as praias, os carros velhos, as casas com decoração modesta, o espírito das pessoas. Dessa Cuba do dia a dia emana uma simpatia inequívoca, uma certa pureza e uma melancolia idem. Essa visão original da gente de Cuba parece o melhor legado deste filme.

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