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Descrição de chapéu Obituário (1930 - 2018)

Morre a escritora Zulmira Ribeiro Tavares, aos 88, em São Paulo

Autora ganhou o prêmio Jabuti de romance, em 1990, com o livro 'Joias de Família'

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A escritora paulistana Zulmira Ribeiro Tavares - Renato Parada/Divulgação

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São Paulo

A escritora Zulmira Ribeiro Tavares morreu em São Paulo nesta quinta-feira (9), aos 88 anos, em decorrência de uma infecção urinária seguida de pneumonia. 

Autora de romances e livros de contos, sua prosa meticulosa escarafuncha o desconcerto da vida social brasileira --em especial das elites paulistanas-- com olhar de anatomista, levando vários críticos a identificar em seus relatos pequenas monografias e ensaios de viés satírico.

O exemplo rematado desse pendor para a caricatura está no romance "O Nome do Bispo", de 1985. Nele, o ilustre protagonista, acometido por uma fissura anal, entra numa via crucis existencial em que repassa as peripécias familiares e vai desconstruindo a fantasiosa (e racista) genealogia pela qual os quatrocentões recalcam suas origens miscigenadas.

Entre despautério, ferida narcísica e decadência, a obra de Ribeiro Tavares traz uma fiada de nomes pomposamente compostos "“como Heládio Marcondes Pompeu, do livro acima citado, ou Maria Bráulia Munhoz, do igualmente impiedoso "Joias de Família", romance de 1990 em que a geografia paulistana assinala os deslocamentos e o desconforto de uma elite decrépita.

A precisão documental com que Tavares descreve as marcas temporais impressas em ruas e bairros reitera um deslocamento mais agudo e irreversível, da ordem do tempo e da caducidade de suas personagens --às quais a autora até empresta algum lirismo, se bem que cômico.

Caso emblemático é "A Curiosa Metamorfose Pop do Sr. Plácido", conto no qual um simplório vendedor de utilidades domésticas passeia pela Bienal de São Paulo portando um penico, logo confundido com um"ready-made" e deflagrando uma meditação nonsense sobre os limites "borrados" (no sentido estético e escatológico) da arte contemporânea, em mais um flagrante dos descompassos da mentalidade de época.

O relato foi extraído de "Termos de Comparação", primeiro livro de Zulmira Ribeiro Tavares, publicado em 1974 pela Perspectiva, na qual ela trabalhou com o editor Jacó Guinsburg no período em que selou amizade com os ensaístas Anatol Rosenfeld, Sábato Magaldi e Roberto Schwarz.

Recentemente, contos desse livro foram reunidos a outros de coletâneas subsequentes (como "O Mandril", de 1988) e a narrativas e a um ensaio inéditos, compondo a antologia "Região "“ Ficções Etc.", de 2013, que cobre a produção da autora entre 1974 e 2007.

O volume, fundamental para quem deseja ter uma visão instantânea de sua literatura, inclui alguns poemas esparsos de suas obras anteriores. 

Mas foi só com "Vesuvio", de 2011, que Zulmira Ribeiro Tavares lançou um livro exclusivamente dedicado à poesia. Aqui, mais uma vez, o sentido crítico se afia mesmo nos momentos mais celebrativos ou memorialísticos, como na seção "Lírica Canhota", cujo título fala por si.

Dentro desse conjunto, despontam ainda, na seção "Instalações", impressões e reflexões despertadas pela arte, que se conectam a uma sensibilidade cultivada pela autora nos tempos em que atuou como crítica de cinema e artes visuais.

E se vários desses textos estão numa zona híbrida, entre o poema em prosa e o micro-conto, a própria Zulmira Ribeiro Tavares preferia o termo "ficções" para os gêneros breves como aqueles que encontramos em "Cortejo em Abril", de 1998, nos quais a forma elíptica dá contornos nítidos e efêmera sobrevida às criaturas minúsculas que assistem ao desconjuntado cortejo da história brasileira.

Tavares deixa dois filhos, Pedro e Rui Tavares, e duas netas.

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