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Artes Cênicas

Montagem de 'Angels in America' ressalta qualidade do texto original

Peça consegue articular política, história e sociedade ao lidar com o tema da Aids

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Angels in America

Avaliação: Ótimo
  • Quando: Parte 1: sex., às 21h; sáb., às 18h. Parte 2: sáb., às 21h; dom., às 18h. Até 2/6
  • Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, São Paulo)
  • Preço: Ingr.: R$ 9 a R$ 30
  • Classificação: 16 anos

A premiada peça de Tony Kushner “Angels in America” logo chamou a atenção, no início da década de 1990, pela força com que consegue articular política, história e sociedade ao lidar com o tema da Aids. 

Junto ao drama particular de homossexuais vivendo a rápida disseminação da doença, a obra mostra a atmosfera moralista e conservadora na política dos Estados Unidos em meados dos anos 1980 moldando a sociabilidade do país. É um ambiente no qual o vírus, visto inicialmente como castigo divino à sodomia praticada pelos gays, encontrou condições não apenas biológicas mas também sociais para proliferar.

Para dar conta desta mirada complexa, a montagem da Armazém Companhia de Teatro, dirigida por Paulo de Moraes, cria um mecanismo próprio de encenação. De modo mais ou menos constante, após o fim de cada cena, alguns dos personagens continuam no palco; ficam ali demarcando a permanência do acontecimento anterior e, assim, sugerindo conexões entre as histórias distintas contadas na peça.

É uma estética de justaposição que faz com que nenhuma cena seja somente ela. Em outras palavras, os indivíduos solitários, fraturados e delirantes que povoam o texto ficam sendo partes de um todo social, estão conectados nessa grande máquina do mundo, conservadora e opressiva.

A cenografia sintética contribui para isso. Elementos simples ganham múltiplos significados e os espaços são sugeridos mais pela imaginação do que pela concretização realista dos locais onde as cenas se desenvolvem.

Toda essa mise-en-scène cria uma marcante sintaxe teatral para a dramaturgia de Tony Kushner. Coisa que não só preserva como ressalta a força reflexiva da palavra e a qualidade literária da dramaturgia. 

Mérito também de um excelente elenco que se aproxima com atenção e sensibilidade das fascinantes personagens de “Angels in America” e não deixa que as incursões metafísicas da peça (seus anjos, sonhos e visões) se descolem da vida concreta que envolve toda a trama.

Contudo, o espetáculo não resolve a desarmonia entre as primeira e a segunda peça que formam, em conjunto, “Angels in America” e contam com mais de seis horas de duração —cerca de uma hora a menos do que a montagem da Broadway de 2017.

A primeira parte recebe o título de “O Milênio se Aproxima”. Na segunda, chamada “Perestroika”, a viva dinâmica da fração inicial perde muito de sua força —tanto na dramaturgia como também na montagem.
Ali a trama é retomada, mas num momento em que tudo parece já ter sido consumado. As cenas tornam-se arrastadas, mais prolixas e envoltas em longas reflexões desconectadas da ação. 

Tudo culmina em um estranho discurso otimista de resistência pela vida. Algo que soa como um final feliz “ex machina” para o quadro desolador apresentado até então pela companhia no palco.

Há de se buscar otimismo, é verdade, mas esse que nasce da peça soa tão postiço e estranho ao desenvolvimento da trama quanto frágil no tempo em que vivemos, tenebrosamente semelhante ao tempo de “Angels in America”.

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