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Descrição de chapéu Flip

Operação com lancha e guarda-costas faz escolta de Glenn Greenwald na Flip

Repórter da Folha acompanhou o jornalista no barco até local do debate

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Paraty (RJ)

Eram 18h46 quando um carro de vidros escuros encostou no cais pesqueiro de Paraty, um local afastado do centro histórico. O jornalista Glenn Greenwald desceu acompanhado de dois seguranças, que o acompanham 24 horas por dia desde que começaram a ser publicadas as reportagens da VazaJato.

Era o início da operação de guerra montada para levá-lo até o barco pirata da Flipei (Feira Literária Pirata das Editoras Independentes), da programação paralela da Flip, onde falaria mais tarde ao lado do ator, escritor e humorista Gregorio Duvivier, do professor Sérgio Amadeu e do jornalista Alceu Castilho.

Só fui informada na última hora sobre o lugar em que deveria aguardar a chegada de Greenwald para acompanhá-lo. No cais, havia apenas pescadores e um homem com equipamento de filmagem.
Indagado se estava esperando por alguém ali no cais, o homem respondeu apenas “sim, alguém”. O clima de sigilo cercava toda a operação.

Greenwald vestiu o salva-vidas e embarcou com seus seguranças, a equipe de filmagem e organizadores da Flipei num barco de fibra de vidro chamado Tempo de Aventura. Eu acompanhei.

Glenn Greenwald no barco rumo à debate na Flip 2019 - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Fábio Santos, o piloto do barco, não sabia exatamente quem estava transportando. “Já vi na TV, ele mexeu no celular do pessoal e pegou umas coisas, né?”

Os organizadores da Flipei e os seguranças de Greenwald traçaram uma estratégia para evitar que ele passasse pelo meio do centro histórico de Paraty e enfrentasse confrontos com manifestantes que se opunham à sua presença na cidade. 

Resolveram não transportar Greenwald por terra, porque seria mais fácil fazer sua escolta se ele chegasse de voadeira até onde iria falar. Organizadores iam monitorando a quantidade de participantes nos protestos contra Greenwald. “E aí, quantos coxinhas tem aí?” Chegaram até a infiltrar pessoas em grupos de WhatsApp de direita.

O jornalista americano tem sofrido ameaças constantes, por email e redes sociais, inclusive envolvendo como alvo os dois filhos que ele tem com o deputado David Miranda.

“Minha vida mudou completamente. O que eu mais gosto de fazer no Rio é andar sozinho nas ruas. Não posso mais fazer isso. Tínhamos três câmeras de segurança, tivemos que aumentar para 30. Temos carro blindado e seguranças 24 horas por dia”, ele me disse.

“Não devo nada, então não me intimida essa investigação da Polícia Federal ou o Coaf [sobre suas transações financeiras]. Mas eles estão criando um clima de medo, é uma tentativa de assustar e intimidar jornalistas.”

Greenwald também tem sido hostilizado publicamente. “Outro dia, fui ao Shopping Leblon e uma senhora acompanhada da neta começou a gritar ‘volta pro seu país, vai embora do Brasil’. Mas o meu país é o Brasil, meu marido é brasileiro, meus filhos são brasileiros.” Foram dez minutos no Tempo de Aventura. 

Chegando perto do barco onde aconteceria o debate, Greenwald, os seguranças e um dos organizadores da Flipei e editor da Autonomia Literária, Caue Ameni, podiam ouvir o som muito alto do hino brasileiro e fogos de artifício. 

“Nossa, isso tudo é muito intenso”, disse Greenwald. “Que diferença da última vez em que estive na Flip”. Um dos seguranças de Greenwald, pelo rádio, perguntava: “O hino eu sei que e é contra nós, mas e os fogos, são contra ou a favor?”. Eram contra. O americano fez piada. “O protesto é contra você e o Duvivier, não é contra mim não”, ele me disse.

Chegando ao barco pirata, o jornalista foi ovacionado por uma multidão. Mas o som do protesto vizinho aumentava.

Depois de alguns minutos, a manifestação dos que eram contrários à presença do jornalista americano foi silenciada com a ação da polícia.

“O único momento em que intervenção militar é boa é quando ela é contra quem pede intervenção militar”, brincou Duvivier. 

Mas a trégua durou pouco. Os manifestantes voltaram a tocar versões funk do hino e a gritar “Lula tá preso, babaca”.

Era difícil ouvir o que Greenwald falava. Algumas pessoas desistiram e foram embora, sem conseguir escutar o que ele dizia, mas a maior parte continuou, apesar do frio. 

“Poxa, não tem quase ninguém no protesto deles, mas a caixa de som dos caras é potente. E esses fogos atrapalham”, lamentava um dos organizadores.

Ao final, Greenwald, vestido com uma jaqueta da seleção brasileira que pegou emprestado de seu segurança, embarcou de novo no Tempo de Aventura e desapareceu na escuridão.

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