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Artes Cênicas

Festival reencena drama eletrizante nascido das escolas ocupadas

Em cena, jovens transformados pelo que viveram há quatro anos e que carregam em si a presença daquele momento

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Quando Quebra Queima

Avaliação:
  • Quando: Dia 8 de agosto, às 21h
  • Onde: Sesc Ipiranga - rua Bom Pastor, 822 - Ipiranga, tel.: (11) 3340-2000
  • Preço: Grátis

É difícil olhar para “Quando Quebra Queima” sem ver ali o vulcão do qual o espetáculo se origina. É um híbrido de dança, teatro e performance que reativa o espírito de rebeldia das mais de 200 ocupações de escolas estaduais que se alastraram por São Paulo em 2015.

No final daquele ano, a luta contra o remanejamento de salas pelo governo do estado logo se transformou na crítica a escolas-prisão que mais alienam do que emancipam. Durante semanas, os colégios se transformaram em espaços autogeridos. E eles nunca foram tão alegres, democráticos ou criativos.

A certa altura de “Quando Quebra Queima” são projetadas imagens de uma grande manifestação em 2015. Em cena, o elenco grita junto com os estudantes do vídeo as palavras de ordem do protesto. É como se o passado daquela luta estivesse presente ali, redivivo no corpo e na rebeldia do grupo formado nas ocupações.

São corpos cheios de energia, curiosidade e autoafirmação. Eles se valem do funk, do passinho, do hip-hop para exercitar uma cinética nova que se contrapõe à inibição do corpo nas filas do trem, no trabalho repetitivo e em escolas que aprisionam. Se não há exatamente rigor técnico ou acabamento expressivo nos movimentos, brilha ali o experimentalismo e a vontade de descobrir coletivamente um corpo livre e insubmisso.

O resultado é um coro de eletrizante magnetismo. Vemos em cena jovens transformados pelo que viveram há quatro anos e que carregam em si, incrustada na pele, a presença daquele momento.

Tudo acontece numa sala ampla sem divisão entre palco e plateia. Quando o movimento cresce, as cadeiras em que o público se senta são retiradas para, em bela inversão, se transformarem nas barricadas das escolas ocupadas. 

O público passa a fazer parte da cena, se reposiciona, busca diferentes pontos de vista. Com o tempo, a audiência também replica as palavras de ordem e responde aos jograis iniciados pelo grupo, criando uma grande voz coletiva.

O espetáculo consegue, assim, fazer com que a força estética do trabalho deságue sobre a vida. Cada apresentação se torna um ato político envolvendo os artistas e o público. É uma poética incendiária que lembra o poder da arte em dinamizar a rebeldia e provocar a consciência.

Em tempo de imperativos delirantes por ordem, disciplina e pelo fim do pensamento crítico nas escolas, “Quando Quebra Queima” faz lembrar o velho educador sentado na calçada olhando em silêncio um colégio ocupado em Diadema. Quando interpelado por jornalistas atrás do depoimento “de um professor”, ele responde com olhos marejados: “professores são eles”.

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