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Rock in Rio

Rock in Rio mostra desgaste ao tentar recriar shows históricos numa era pop

Espaço Favela reuniu uma das apresentações mais comentadas e mostrou como o funk é subestimado nos grandes festivais

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Rio de Janeiro

O Red Hot Chili Peppers fez um show de altos e baixos no Rock in Rio. Não foi por falta de técnica ou vontade, mas sim porque a banda reduziu a quantidade de hits —e, consequentemente, o apelo com o público.

Foi o jeito que os californianos deram para tentar não se repetir no terceiro ano seguido fazendo shows no Brasil. Todos eles, sendo dois no Rock in Rio, com a mesma turnê, iniciada em 2016.

Não foi um problema exclusivo do Red Hot. O Scorpions fez seu 45º show no país, cinco a mais que o headliner do dia do metal, o Iron Maiden. Nomes como Capital Inicial —que já tocou sete vezes no festival— chegaram a mostrar shows quase idênticos às últimas passagens pelo evento.

O Rock in Rio é conhecido pelas repetições, consideradas garantias de um público tão numeroso. O formato, contudo, começa a demonstrar desgaste. 

Este foi o primeiro ano em que os 100 mil ingressos diários demoraram para esgotar, alguns disponíveis até a véspera do evento.

Mas independente do impacto nas vendas, o excesso de cautela da curadoria reflete no público. Cada vez mais, a sensação é de plateias blasé, com exceção dos mais aficionados —em geral próximos ao palco, mais animados e que ganham a preferência das câmeras.

Tem a ver com o esgotamento de algumas atrações, mas também com a falta de conexão com o presente. Bon Jovi, por exemplo, viveu seu ápice há cerca de 30 anos.

O único artista que chegou ao Parque Olímpico no auge da carreira foi Drake. Atrapalhado pela chuva, o primeiro rapper a fechar um dia do evento atrasou, teve problemas com a luz e não liberou a transmissão do show para a TV, mas acabou encantado com a plateia brasileira.

Quem gosta de Drake estava tomado pela emoção de vê-lo cantar ao vivo pela primeira vez. O show de P!nk, que também estreou em solo nacional, teve devoção parecida

Mesmo com seus maiores sucessos lançados há mais de dez anos, ela fez uma apresentação dedicada e performática para um público sedento por vê-la.

Só que, no Rock in Rio, os fanáticos parecem ser minoria perto daqueles que conhecem um ou outro hit e passam shows inteiros esperando por eles. O festival funciona em uma espécie de ciclo vicioso, no qual o público pouco segmentado acaba por alimentar uma música mais genérica e vice-versa.

Os sons radiofônicos reinam soberanos também no miolo do festival, ao contrário do que acontece em eventos menores, quando a curadoria arrisca mais e consegue dar tiros mais certeiros.

Uma energia de pop feito em escala industrial paira sobre boa parte das apresentações, nas quais o público só parece se emocionar com hits que ouviram exaustivamente no trânsito ou nas aulas de spinning da academia, como no caso dos sucessos de Bebe Rexha e Ellie Goulding.

Não à toa a apresentação do DJ Alok foi uma das que mais motivaram celulares apontados para cima para gravar o assovio de “Hear Me Now” ou a união de um EDM farofa a clássicos como “Feeling Good”, de Nina Simone.

O rock acaba caindo no mesmo balaio, mas na versão "Guitar Hero". Shows grandiosos como o do Foo Fighters e dos one-hit wonders Goo Goo Dolls só parecem ganhar a potência vendida pelo Rock in Rio em seus ápices e nos solos de guitarra que o público poderia emular num videogame. 

As exceções foram os dias temáticos. Neste ano, o heavy metal voltou a ter uma data exclusiva, com Iron Maiden e Scorpions. Assim como o pop, com Anitta, The Black Eyed Peas e P!nk.

Essas foram as plateias que realmente contribuíram para os momentos épicos —alimentados pela publicidade excessiva e fogos de artifício que o festival proporciona.

A escalação do palco Sunset, por sua vez, se consagrou como o ponto fora da curva do festival.

Ali, encontros como o que uniu Elza Soares a novos talentos nacionais e o Pará Pop, com artistas como Dona Onete, Fafá de Belém e Jaloo, ganharam brilho extra e carregaram nas costas a parte mais original e desafiadora do Rock in Rio. 

O ponto alto, que contou a história do funk com Fernanda Abreu, Buchecha, Ludmilla e uma orquestra, foi ainda mais simbólico por escancarar o quanto o gênero ainda é subestimado nos grandes festivais brasileiros, normalmente reduzido a palcos secundários ou atrações pontuais.

As dobradinhas como Iza e Alcione, Emicida e Ibeyi e Mano Brown e Bootsy Collins coroaram o palco com a mistura geracional e de ritmos. Além das oportunidades de se ouvir versões especiais de clássicos como “Você Me Vira a Cabeça”, de Alcione, e "P. Funk (Wants to Get Funked Up)”, do Parliament, cantada por Brown e Collins.

Outro espaço que reuniu algumas das atrações mais comentadas desta edição, o Favela, teve um apelo muito mais interessante do que sua cenografia sugeriu.

O lugar foi criticado por recriar um morro carioca de maneira estereotipada, mas chegou a reunir públicos mais numerosos do que o próprio palco Sunset, como no caso do show do Heavy Baile.

Na teoria, o Rock in Rio vende seus shows como se fossem uma reprodução da apresentação do Queen em 1985. Na prática, ainda tropeça ao tentar recriar a urgência daqueles shows históricos em uma nova era da música pop.

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