'Cicatrizes' traz história de bebê desaparecido na Sérvia sem seguir a linha filme-denúncia
O longa, quase com um formato de thriller, leva o mistério e a dúvida até a última cena
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Mais de 300 famílias, na Sérvia de hoje, buscam bebês desaparecidos nas últimas décadas por conta de uma máfia de sequestros que envolve autoridades, médicos e políticos. A prática é avisar a família de que a criança nasceu morta e, logo, vendê-la para adoção.
“Cicatrizes” mostra este drama, mas sem seguir a linha do filme-denúncia, pois não relata a problemática social como um todo.
Acompanhamos, sim, a busca silenciosa e determinada de uma mulher que têm certeza de que seu filho, que teria nascido morto havia 18 anos, foi vítima dessa prática, e que esteja talvez ali, num dos bairros de uma silenciosa e perigosa Belgrado dos dias atuais. O filme tem um ritmo de suspense quieto e angustiante.
Enquanto, na superfície, Ana (Snežana Bogdanović) continua realizando seu trabalho, caminhando até o ateliê de costura e realizando os trabalhos domésticos, vemos que sua mente segue inquieta.
Ela é a única em sua casa que passou todo esse tempo sem acreditar na morte do filho.
De forma repetida e calada, ela segue pistas evasivas e um tanto às cegas pela cidade.
Basta surgir uma dúvida, uma pequena pista, e ela sai seguindo pessoas, colocando-se, algumas vezes, em perigo. Em casa, o marido, Jovan (Marko Baćović), e a filha adolescente, Ivana (Jovana Stojiljković), não aguentam mais sua obsessão.
Trata-se de uma família simples, enquanto Ana é costureira, Jovan é guarda noturno, o que faz com que Ana passe longas noites sozinhas numa dramática semivigília em que o pensamento em seu filho está sempre com ela.
Já Ivana passa os dias desaparecida com a atenção posta em seu celular.
Jovan e Ivana demonstram uma distante solidariedade a Ana, mas parecem preferir deixar de sofrer e aceitar a explicação dada por tantos delegados, burocratas do sistema e de funcionários de clínicas de que a criança, de fato, não vingou.
Apenas Ana não acredita que isso não é verdade e persiste, até que uma pista mais concreta muda as coisas.
Inesperadamente, é Ivana quem ajuda a aliviar o sofrimento da mãe, enfrentando com ela a investigação dessa nova possibilidade, talvez a última, que os leva até um bairro mais nobre de Belgrado, onde vive uma família mais abastadas que tem um filho da idade do que teria o de Ana.
As injustiças não param aí, mas um ciclo se fecha, dentro dessa ferida ainda aberta da sociedade sérvia.
O filme, quase com um formato de thriller, leva o mistério e a dúvida até a última cena. E há grandes méritos também na fotografia, que mostra uma cidade com cicatrizes não apenas como a deixada na família de Ana, mas como as causadas por tantos anos de conflito.
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