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Cinema

'Dilili em Paris' faz jornada progressista na Paris da belle époque

Novo longa do veterano da animação Michel Ocelot pisca um olho para a nostalgia e outro para a integração de culturas e feminismo

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Neusa Barbosa

Dilili em Paris

  • Quando Estreia nesta quinta (13)
  • Classificação 10 anos
  • Produção França/Bélgica/Alemanha, 2018
  • Direção Michel Ocelot

O veterano diretor de animação francês Michel Ocelot continua a recusar a frenética linha de montagem da computação gráfica das animações norte-americanas, inserindo seu novo trabalho, “Dilili em Paris”, vencedor do César de melhor animação em 2019, no mesmo território de inspiração nostálgica de seus filmes anteriores, como “Kiriku e a Feiticeira” (1998) e “Príncipes e Princesas” (1999). 

Ocelot prefere ambientar suas histórias no passado. Neste novo filme, na Belle Époque, povoando-a com vários personagens famosos, habitantes de uma Paris que era a capital mundial das vanguardas, como os pintores Pablo Picasso, Claude Monet e Auguste Renoir, o cientista Louis Pasteur, o compositor Claude Debussy, a cantora lírica Emma Calvé e a atriz Sarah Bernardt.

O diretor mantém seu fascínio por culturas não europeias, mas concentra a referência numa única personagem, sua protagonista, Dilili. Original do povo canaco, da Nova Caledônia, possessão francesa no Oceano Pacífico, a garotinha fugiu num barco rumo à França, embarcando em aventuras e ganhando a proteção de uma condessa. Teve uma educação esmerada, a cargo da educadora e anarquista Louise Michel, que é a primeira da galeria de personagens verídicos a entrar nesta fábula integracionista de povos e culturas.

O mais interessante é a inversão dos papeis tradicionais entre colonizador e colonizado, atribuindo-se a Dilili a função de exploradora tanto das paisagens mais emblemáticas de Paris, da torre Eiffel às escadarias de Montmartre, como da essência da arte e da ciência da França. 

Através dos dois protagonistas jovens —o parceiro de estrada de Dilili é o adolescente Orel, entregador de triciclo cujo visual mistura o Tintin de Hergé e o Pequeno Príncipe de Antoine Saint-Exupéry— , Ocelot pode seguir o tom da fábula com a magia necessária para promover tantos encontros. O realismo limita-se aos cenários parisienses, incorporados a partir de fotografias, criando um contraste com as figuras tridimensionais da animação.

Afinal, é o olhar curioso dos povos ancestrais, representados por uma Dilili aliada ao jovem francês, numa relação desprovida de racismo e choque cultural, que conduz à redescoberta do melhor da cultura e da civilização para enfrentar a ameaça obscurantista da gangue dos Mestres do Mal, que sequestram meninas visando escravizar todo o gênero feminino. 

A intrépida Dilili conta com uma mãozinha de outro ilustre morador de Paris na época, o aviador brasileiro Alberto Santos Dumont. Ouve-se de sua boca, na versão legendada, as únicas palavras em português, ainda que, equivocadamente, se use pelo menos duas expressões lusitanas e não brasileiras —“pequerrucha” e “presentinho do céu” para designar uma criança. Só acertaram mesmo no brasileiríssimo “docinho de coco”.

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