Siga a folha

Descrição de chapéu

Documentário sobre Pauline Kael é carta de amor a figura apaixonada pelo cinema

Mais esclarecedor do que seria imaginável, longa mostra como sua vida coincidiu com a época prodigiosa dos filmes

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Ann Hornaday
The Washington Post

Para os críticos de cinema de uma determinada geração, e sou um deles, a parte mais difícil do trabalho sempre foi tirar de nossas cabeças a voz de Pauline Kael.

Como principal crítica de cinema da revista The New Yorker, Kael exerceu influência sem paralelo, não só sobre as escolhas de seus leitores e sobre a interpretação dos filmes a que assistiam, como também sobre os jornalistas que se formaram lendo sua coluna.

A prosa seca, brilhante e ironicamente divertida de Kael é ressuscitada com afeto vívido em “O Que Ela Disse: As Críticas de Pauline Kael”, uma carta de amor de Rob Garver a uma mulher cuja paixão contagiante pelo cinema coincidiu com uma das eras mais prodigiosas na história dessa forma de arte.

Entrevistando acólitos, admiradores e a filha adulta de Kael —e também diversos cineastas—, Garver acomoda suas observações sobre uma montagem de trechos de filmes que ele usa para ilustrar a carreira da crítica. É uma maneira inteligente, se bem que às vezes explícita demais, de sublinhar até que ponto Kael, que morreu em 2011, era, e continua a ser, uma figura opaca.

Mas mesmo com um personagem central enigmático, o documentário prova ser mais esclarecedor do que seria imaginável.

Acompanhando a carreira de Kael, de seu início como crítica de cinema em uma rádio em Berkeley, Califórnia (onde sua casa era o epicentro da vida boêmia da cidade), à sua mudança para Nova York (onde ela começou como crítica da revista McCall’s antes de se transferir para a The New Yorker), Garver vai além dos fatos e da cronologia de uma cinebiografia convencional e cria uma valiosa história social do final das décadas de 1960 e 1970, quando Kael ajudou a tornar respeitáveis filmes como “Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas” e “O Último Tango em Paris”.

As opiniões dela eram ousadas, admita-se, e muitas vezes contradiziam o consenso de seus pares. Mas era a escrita em si —irreverente, erudita e intransigente— que fazia com que os fãs retornassem, mesmo que se sentissem insultados pelas tiradas sarcásticas que ela escrevia sobre o sentimentalismo piegas e a complacência das pessoas inteligentes mas não muito.

Os pontos fortes que tornavam o trabalho de Kael tão convincente também provaram ser fraquezas fatais. Seu gosto profundamente pessoal ocasionalmente resvalava para o solipsismo e, como
revela o filme, ela não hesitava em recorrer à intimidação.

E tampouco era imune aos atrativos da lisonja e da celebridade, como prova uma desastrosa passagem por Hollywood. Garver não hesita em examinar essas contradições em um retrato que não transmite só o intelecto feroz da escrita de Kael, mas um momento em que um intelecto feroz era algo que merecia ser celebrado e acalentado. O filme presta homenagem não só a uma grande jornalista, mas também a uma era que desapareceu.

Tradução de Paulo Migliacci 

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas