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Romance de Agualusa parece nascer de cálculo, não de inspiração

Escritor se mune de recursos e manobras literárias como se não acreditasse na robustez de seu conteúdo

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Vivien Lando

Os Vivos e os Outros

Avaliação: Bom
  • Preço: R$ 44,12 (208 págs.)
  • Autoria: José Eduardo Agualusa
  • Editora: Planeta

A ilha de Moçambique, também conhecida como Muhipiti, é cenário e personagem deste livro de José Eduardo Agualusa. Descreve-a como um paraíso —na antecâmara do inferno.

Para fazê-la falar mais alto, ali instalou um festival literário, com vários escritores convidados e um jornalista no papel de organizador. E para que ainda a ilha gritasse, ofereceu-lhe uma tempestade com consequente pane elétrica geral —sem celulares, sem internet!

É no isolamento, acredita o autor, que as contradições se exacerbam, as taras afloram, as neuroses são soberanas.

Ok. Dizia Tolstói que, ao falarmos de nossa aldeia, seremos universais. Moçambique é a aldeia adotada pelo escritor nascido em Angola, que nela vê histórias e habitantes fantásticos, paisagens fantásticas. Às vezes fantasmagóricas também.

Então, em cima das personagens, escritores em sua maioria, desenhadas à sua imagem e semelhança, joga pitadas de irrealismo. Não colam. O tempero fica destoado da base banal. Pois se aqueles convidados têm sua concretude, histórias e dramas que com eles desembarcam na ilha, para que iriam se apropriar da magia oculta e tímida do local proposta na obra?

Fica a navegar à deriva o romance entre um escritor e uma escritora. Fica a naufragar o estrelismo de outra autora. Fica a ver navios os debates entre dois participantes. Tudo um pouco anódino, insípido e incolor, como a água que jorra do céu e os separa de um continente talvez imaginário. Ou imaginado.

O escritor angolano José Eduardo Agualusa, na Flip de 2017 - Bruno Santos/Folhapress

Se for para falar de escritores, livros, ideias, existem infinitas possibilidades.

Agualusa, no entanto, parece ter se munido de vários recursos e manobras literárias —inclusive resvalando no realismo fantástico que tanto nos encantou décadas atrás—, como se ele mesmo não acreditasse na robustez de seu conteúdo. Como se "Os Vivos e os Outros" tivesse nascido de uma matriz calculada, não de inspiração, como deve ocorrer com a obra de arte.

Ao final do livro, alguns dos artistas presentes começam a escrever novos livros que se pretendem mais livres e experientes. Mas não são.

Aos 60 anos, o autor parece ter especial predileção por encontros literários e afins. Numa palestra do Fronteiras do Pensamento, afirmou que o bom livro não acaba, permanece dentro de nós após finda a leitura.

Não é o que ocorre com esta sua novela, que pouco deixa de aprendizado, elucidação ou emoção. A aldeia literária submergiu.

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