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'Psi', com abordagem sofisticada, é um legado de Contardo Calligaris

As quatro temporadas da série criada pelo psicanalista colunista da Folha ainda podem ser vistas na HBO Go

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Carlo Antonini surgiu nas páginas dos romances “Conto do Amor”, de 2008, e “A Mulher de Vermelho e Branco”, de 2011, ambos publicados pela editora Companhia das Letras. Mas sua gestação começou muito antes. O personagem, que acumula as funções de psiquiatra, psicanalista e psicólogo, também é uma espécie de alter ego de seu criador, Contardo Calligaris.

Não demorou para que Antonini saltasse dos livros para a tela da TV. Encarnado pelo ator Emílio de Mello, ele protagonizou a série “Psi”, que estreou na HBO em março de 2014. Enfrentou casos complicadíssimos durante quatro temporadas, dentro e fora de seu consultório em São Paulo.

Ao lado de “Sessão de Terapia”, criada em Israel e depois refeita em inúmeros países, “Psi” foi um raro produto televisivo em que a psicanálise veio para o primeiro plano —sem ser, por exemplo, um instrumento para a elucidação de crimes. Inúmeros temas espinhosos foram abordados pela série, do direito ao suicídio à transexualidade. Houve até um paciente que queria aderir ao Estado Islâmico.

A vida pessoal de Carlo Antonini também se espalhava pelos roteiros, que Calligaris assinava com Thiago Dottori e Caroline Margoni. Divorciado, com um filho e dois enteados, o triplo-psi teve alguns envolvimentos amorosos ao longo dos anos e passou por diversas crises de consciência.

Os amigos do protagonista também viviam suas próprias subtramas. A psiquiatra Valentina, papel de Claudia Ohana, teve presença marcante nas duas primeiras temporadas. A partir da segunda, o padre Miguel, vivido por Marcello Airoldi, se tornou confidente de Antonini. E todas as quatro safras contaram com o coveiro Severino, papel de Raul Barreto, um contraponto irônico à angústia existencial de um psicanalista que tenta entender melhor a vida.

“Psi” teve ótima acolhida em seu primeiro ano. Além de críticas favoráveis, o programa ainda recebeu duas indicações ao prêmio Emmy Internacional, as de melhor série dramática e melhor ator, para Emílio de Mello –não venceu em nenhuma das duas categorias.

Mas havia uma certa turbulência nos bastidores. Para a segunda temporada, a HBO decidiu trocar a produtora, algo relativamente incomum no universo da TV. Dispensou a Damasco Filmes e entregou o projeto para a O2, que tem Fernando Meirelles como um de seus sócios.

A partir da terceira temporada, os casos foram ficando mais complexos, ocupando dois episódios cada um. A quarta e última fase ainda teve um tema subjacente, a paranoia, presente em todos os dez capítulos.

“A cultura ocidental é paranoica”, disse Contardo Calligaris à época do lançamento, em março de 2019. “Há mais de 2.000 anos, ela tenta se defender do que considera a origem de todo o mal, o desejo feminino.”

Mesmo sem jamais se tornar um fenômeno em termos de repercussão, “Psi” se manteve como um ímã de talentos durante todo o tempo em que foi produzida. Nomes como Tata Amaral, de “Antonia”, e Laís Bodanzky, de “Bicho de Sete Cabecas", assinaram a direção de alguns episódios –embora ninguém tenha superado a marca de Max Calligaris, filho de Contardo, que dirigiu 13 ao todo.

Atores de prestígio, como a portuguesa Maria de Medeiros, fizeram participações especiais. E a série ainda conquistou uma terceira indicação ao Emmy Internacional, em 2018, a de melhor atriz para Denise Weinberg, que aparece em só dois episódios da terceira temporada.

Com sua abordagem sofisticada e personagens ambíguos, “Psi” talvez não entrasse em produção nos dias de hoje —nem mesmo na HBO, que mudou de direção e agora privilegia atrações de apelo mais popular, como séries estreladas por super-heróis.

Mas seus 43 episódios continuam disponíveis na plataforma HBO Go. Vale a pena os revisitar e se lembrar de um passado recente em que a TV a cabo brasileira se arriscava mais em busca de qualidade, e nem tanto por audiência.

Só não espere uma mensagem edificante. “Mensagem é uma coisa que me dá tédio mortal”, disse Calligaris, em 2019. “Escrevo para contar histórias interessantes.”

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