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Cinema

'Alma de Cowboy' é bem mais do que um filme juvenil de formação

Essencial nele são os gestos e falas que mostram que personagens negros estão em perigo simplesmente por viverem

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Alma de Cowboy

Avaliação: Bom
  • Onde: Netflix
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Idris Elba, Caleb McLaughlin, Lorraine Toussaint e Jharrel Jerome
  • Produção: Reino Unido e EUA, 2020
  • Direção: Ricky Staub

Vidas negras importam —repetimos quase automaticamente. Mas pensamos na verdade nas mortes negras, como a de George Floyd, e nos minutos infames em que ele passou asfixiado a céu aberto em Minneapolis, nos Estados Unidos.

Às vidas negras tem dado atenção o cinema americano contemporâneo (e não só ele, o brasileiro, entre outros, também). Porque as vidas são uma série de gestos, momentos, expressões. São também um modo de ser do corpo, não raro aleijado. Ou uma maneira de se vestir e se portar de modo a se tornar respeitável para a sociedade branca, controlada pelos brancos.

Bem mais do que por sua história, daquelas de iniciação, é da capacidade de captar esses aspectos que vem o encanto de “Alma de Cowboy”. O filme, disponível na Netflix, narra a trajetória de Cole, adolescente negro vivido por Caleb McLaughlin. Após ser expulso do colégio, em Detroit, ele é levado pela mãe, bem contra a vontade, para morar com o pai na Filadélfia.

Aqui algo inesperado acontece. Em plena cidade, num local obviamente cortejado pela especulação imobiliária, há um grupo de criadores de cavalos. Caubóis. Todos negros. Entre eles, o pai de Cole, que o rapaz de início odeia.

Idris Elba e Caleb McLaughlin em cena do filme 'Alma de Cowboy', da Netflix - Aaron Ricketts/Netflix

Com o tempo deixará de odiar, porque o filme não despreza esse tipo clássico de moralidade. Nem esses momentos sentimentais em que um cadeirante conta como se tornou cadeirante.

E, claro, na vida dos negros, o erro é uma hipótese sempre presente —um erro, apenas, pode determinar a vida ou a morte, a prisão ou a liberdade. Eis o problema que herda Harp, interpretado por Idris Elba, desde o momento em que seu filho rebelde chega à Filadélfia e, pouco depois, quando ele reencontra o velho amigo Smush, hoje traficante de entorpecentes.

O contraponto a Smush é o cavalo Boo, rebelde como Cole. Boo se apaixona por Cole, de quem é uma metáfora, e vice-versa. Cole parece ser o único capaz de domar o cavalo. Mas aí está outra lição de moral que o filme encerra: cavalos só se deixam domar quando percebem que, se não cederem, morrerão.

Okay, vale para todo mundo que viva em sociedade. Mas vale muito mais para os negros. E a tensão que o filme desenvolve é entre essas duas hipóteses. Cole se deixará levar pelo amigo traficante ou se manterá fiel ao cavalo?

No filme de Ricky Staub, isto é, a rigor, secundário. O essencial são mesmo os gestos, as expressões de corpo e mesmo palavras que revelam personagens cercados todo o tempo pelo perigo pelo simples fato de viverem.

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