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Companhia das Letras recolhe livro infantil com crianças em navio negreiro

'Abecê da Liberdade', que reconta a infância de Luiz Gama, mostra brincadeira de roda com correntes

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São Paulo

A Companhia das Letras decidiu retirar o livro infantil "Abecê da Liberdade: A História de Luiz Gama, O Menino que Quebrou Correntes com Palavras" de circulação neste sábado (11).

A resolução foi tomada após a obra ser alvo de críticas. Como apontou reportagem do UOL, algumas cenas retratadas no livro deturpam a realidade da população negra durante o período da escravatura no Brasil.

Entre elas, a que gerou mais polêmica foi a da viagem em um navio negreiro, da África para a América, onde o advogado e escritor Luiz Gama, ainda pequeno, aparece brincando de roda com outras crianças sorridentes.

Ilustração de 'Abecê da Liberdade', livro infantil que a Companhia das Letrinhas recolhe após críticas - Reprodução

"Eu, a Getulina e as outras crianças estávamos tristes nos [sic] começo, mas depois fomos conversando, daí passamos a brincar de pega-pega, esconde-esconde, escravos de Jó (o que é bem engraçado, porque nós éramos escravos de verdade), e até pulamos corda, ou melhor, corrente", descreve o narrador na página 27. "Nem parecia que íamos ser comprados por pessoas brancas e trabalhar de graça para elas até a morte."

"Lamentamos profundamente que esse ou qualquer conteúdo publicado pela editora tenha causado dor ou constrangimento aos leitores ou leitoras", escreveu a editora em nota à imprensa. "Consideramos a crítica correta e oportuna, imediatamente disparamos o processo de recolhimento dos livros do mercado e interrompemos o fornecimento de nosso estoque atual. Esta edição agora está fora de mercado e não voltará a ser comercializada."

Capa do livro 'Abecê da Liberdade', publicado pela Companhia das Letrinhas, e tirado de circulação após narrativa despertar polêmica - Reprodução

No momento da publicação desta reportagem, ainda é possível encontrar exemplares de "Abecê da Liberdade" à venda online em diversos varejistas, tanto em edições físicas como digitais.

O livro escrito por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, com ilustrações de Edu Oliveira, foi lançado em 2015 pelo selo Alfaguara da editora Objetiva e relançado pelo selo Companhia das Letrinhas no ano passado, sem alterações.

"Assumimos nossa falha no processo de reimpressão do livro, que foi feito automaticamente e sem uma releitura interna", segue a nota, "e estamos em conversa com os autores para a necessária e ampla revisão".

Isabela Santiago, da divisão infantil de marketing da editora, afirmou ao UOL que o título não passou por revisão para essa nova impressão, mas, após as críticas, informou que o livro estava em processo de releitura interna, que seria repassada aos autores.

Torero disse ao portal que se trata de uma obra de ficção, sem "busca de exatidão histórica". Segundo ele, cenas como as das brincadeiras nos navios negreiros, imprecisas de um ponto de vista realista, são justificadas porque "a ironia é uma forma de trabalhar a dor" e que é da natureza das crianças brincar mesmo em situações dita inapropriadas, a exemplo de velórios.

"Talvez fosse mais fácil fazer algo dramático. Mas resistimos a essa tentação. Uma criança é mais complexa do que isso", disse o escritor, com quem este jornal tentou contato sem sucesso.

Leia abaixo nota completa divulgada pela Companhia das Letras.

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