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Cinema

'Mate ou Morra' é retrato de uma Hollywood policialesca e caipira

Não deixa de ser divertido ver Mel Gibson, velho porta-estandarte da direita, soltar o xingamento 'malditos liberais'

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Mate ou Morra

Avaliação: Ruim
  • Quando: Estreia nesta quinta (16) nos cinemas
  • Elenco: Frank Grillo, Mel Gibson, Naomi Watts, Will Sasso, Annabelle Wallis
  • Produção: EUA, 2021
  • Direção: Joe Carnahan

A horas tantas de “Mate ou Morra”, um Roy Pulver, papel de Frank Grillo, quase entediado com sua vida lamenta. “Isso não é vida.” E não é mesmo. É um videogame. Pois o princípio genial deste filme gerenciado por Joe Carnahan é esse –se a garotada gosta de videogame, o que podemos oferecer de melhor do que filme-game?

Expliquemos –Roy Pulver está preso em um dia, por obra de sua amada Naomi Watts, que o fez ficar encapsulado num determinado dia, com centenas de agentes a mando do coronel Ventor, papel de Mel Gibson, que o matam antes que possa terminar o café da manhã.

Inútil dizer, Ventor é um vilão disposto a dominar o mundo e tal e coisa. O fato é que Pulver deve morrer todo santo dia, dias e dias a fio, cada dia aprendendo a evoluir por mais alguns minutos. Não importa que morra, o dia seguinte é sempre o mesmo dia. Não é vida, é videogame, com a sutil diferença que o personagem e o jogador são a mesma pessoa.

O objetivo óbvio é escapar desse dia, reencontrar a realidade. Pulver vai vencendo todas as etapas, uma a uma. Mas qual a vantagem de sair desse dia infindável?

Bem, Pulver é um herói a serviço do militarismo americano e nessas ele matou muita gente pelo mundo afora e, durante essas jornadas, esqueceu que tinha uma amada, na pessoa de Jemma, e um filho, isto é, uma família. Quando retorna de alguma das inúmeras batalhas a que a vida o obrigou, encontra uma Jemma mais para fria, a dizer a ele que o seu tempo já passou et cetera.

Mas Pulver, malgrado as aparências, é um homem de coração. E de família, como exige a Hollywood contemporânea. Como se vê preso naquele dia infernal, seu objetivo final é reencontrar a mulher e o filho (além de escapar do dia-prisão, claro). Aí sim o jogo estará terminado.

Que mais dizer dessa joça? Que há um bom plano (o primeiro do filme), embora nada excepcional. E que não deixa de ser divertido ver Mel Gibson, o velho porta-estandarte da extrema direita, soltar durante um combate o xingamento “fucking liberals” –malditos liberais, em tradução suave– em direção a seu inimigo.

Mas isso não soma mais de 20 segundos. O resto do tempo ou se é um fanático por games feliz por ver um herói de games em carne e osso (como se houvesse alguma carne e osso, isto é, um mínimo de personagem real nessa história) ou se sofre com paciência.

“Mate ou Morra” é um retrato bem realista da situação hollywoodiana atual. Ou, como escreveu um autor, para os produtores atuais o negócio não é o cinema, o negócio é o dinheiro. É uma pena não para eles, mas para o cinema. Esse imaginário policialesco, militarista e, no fim das contas, caipira que domina os filmes de grande público com essa papinha insalubre e servil, apenas serve para diminuir o cinema como expressão artística e encolher o universo das crianças e dos adultos infantilizados que caem nessa.

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