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SP-Arte presencial começa com pelados no vestiário e galerias queimando estoque

Novo espaço da feira de arte, sem divisão por setores, tem aprovação de marchands

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São Paulo

Dois dias antes de finalizar sua 17ª edição, a primeira presencial desde o início da pandemia, a SP-Arte tinha o mesmo clima de euforia com que começou, na quarta-feira. Os galeristas esperavam comercializar todas as obras à venda em seus estandes até domingo, o último dia da feira de arte.

Adriano Casanova, dono da galeria que leva seu sobrenome, afirmou que o movimento estava bom. Ele vendeu cinco pinturas do jovem artista Bernardo Glogowski, entre R$ 5.000 e R$ 6.000 cada uma, e duas videoinstalações do fotógrafo alemão Michael Wesely —R$ 60 mil cada uma— além de um dedo de mármore do britânico Toby Christian por R$ 25 mil.

"Não vejo as vendas da SP-Arte só do primeiro ao quinto dia", ele afirmou, acrescentando que as negociações tendem a seguir após o final da feira, ocasião em que prospecta novos clientes.

Pintura de Thomaz Rosa, artista da galeria carioca Quadra, em exposição na SP-Arte - Bruno Leão/divulgação galeria Quadra

De acordo com o galerista Acácio Lisboa, da galeria Frente, esta edição está sendo equivalente em valores de vendas à de 2019, a última SP-Arte presencial antes da pandemia. Nos dois primeiros dias de feira ele vendeu seis obras, de Genaro de Carvalho, Francisco Brennand, Leonilson, Burle Marx, León Ferrari e Hércules Barsotti —como se trata de mercado secundário, são trabalhos de valor mais elevado. O trabalho mais caro de seu estande é uma tela de Adriana Varejão, de R$ 2,5 milhões.

Thiago Gomide, da Bergamin & Gomide, somava R$ 9 milhões negociados até o início da tarde de sexta, resultado que diz considerar muito bom. "Se contar em dólar, já vendi mais em outras feiras, mas em real talvez seja a feira em que mais vendi", ele disse.

Na quinta, por exemplo, saíram duas esculturas de José Resende por cerca de R$ 500 mil cada uma —o artista abre uma mostra em novembro na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Gomide se diz confiante de que pode vender todo o seu estande até o fim da feira.

Declarações do tipo já eram ouvidas nos corredores da SP-Arte ao final do primeiro dia, na quarta, quando só convidados e colecionadores passeavam pela Arca, local que recebe o evento pela primeira vez.

Cristina Tolovi, sócia-diretora da galeria Jaqueline Martins, por exemplo, calculava ter vendido 120% de seu estande, partindo do princípio de que a casa comercializou mais obras do que as que estavam expostas, já que algumas delas são edições em série.

Por R$ 67 mil, um colecionador levou um neon branco de Regina Vater onde se lê "your eye is my mirror", ou o seu olho é meu espelho, e por R$ 45 mil outro ficou com um trabalho de Daniel de Paula —nome quente da 34ª Bienal de São Paulo, agora em cartaz— no qual o artista reuniu rochas extraídas de locais que receberam obras públicas superfaturadas e as colocou num recipiente.

A poucos metros dali, Vilma Eid, da galeria Estação, comemorava a venda de uma pintura de André Ricardo por cerca de R$ 30 mil, e Marcela Setton, da carioca Quadra, estreante na SP-Arte, a de uma tela do jovem Thomaz Rosa por cerca de R$ 20 mil.

Fernanda Restom, da Central, tinha um caderninho recheado com nomes de possíveis novos clientes.

O clima de feira se impôs na primeira SP-Arte presencial durante a pandemia. Havia uma euforia entre galeristas e colecionadores, ávidos por retomar o contato físico com as obras de arte e fazer o dinheiro circular nos corredores da Arca, galpão de ar industrial berlinesco na Vila Leopoldina, em São Paulo.

Entre taças de espumante e bocadas de pipoca gourmet, a excitação do público com a retomada da vida social das feiras depois de quase dois anos de paralisação se estendia também à aprovação dos galeristas com a configuração dos estandes no novo espaço.

Todas as galerias agora estão no mesmo andar, diferentemente da versão da SP-Arte no pavilhão da Bienal de São Paulo, e não há mais divisão por setor —casas mais jovens estão ao lado de outras com décadas de existência e, no meio delas, há as galerias ou escritórios de mercado secundário, com obras de maior valor vindas de coleções passadas.

Para o público, ficou mais fácil e rápido de circular, já que a Arca é bem menor e menos grandiosa em comparação com o pavilhão de Oscar Niemeyer no parque Ibirapuera. O número reduzido de galerias, menos de 80, torna possível ver bastante do que está exposto sem correria.

A visitação, na verdade, é uma experiência nova para todos. Sai a imponência das curvas do pavilhão desenhado pelo arquiteto modernista e entra o ambiente "cool" de um armazém reformado numa região muito pobre da cidade, como a lembrar os endinheirados e importantes que a poucos metros da festa da arte há gente passando fome.

Quem perdeu com a nova configuração foram as editoras, agora relegadas a um espaço meio escondido atrás da lanchonete do galpão anexo, chamado State, enquanto antes ficavam próximas à rampa que leva do térreo para o primeiro andar do prédio da Bienal.

O dedo de marfim de Toby Christian, chamado 'Finger III' - Divulgação galeria Casanova

Se não com o espaço, o link com a Bienal fica a cargo das obras. Uma parte do que está exposto são trabalhos de artistas presentes agora na 34ª edição do evento, em cartaz até dezembro. O estande da galeria C, por exemplo, é inteiro dedicado a fotografias de Uýra Sodoma, entidade amazônica criada por Emerson Pontes, a Almeida e Dale levou só obras de Lasar Segall e as pinturas negras de Antonio Dias são ofertadas em diversos estandes, uma delas à venda por R$ 5 milhões na Zipper.

Nos corredores, a busca pela atenção dos colecionadores não acontece só com obras dos nomes da vez do mercado, mas também pela customização dos espaços. A Verve transformou seu estande numa simulação de vestiário masculino, nas paredes do qual pendurou só telas melancólicas de teor homoerótico de Francisco Hurtz. Já a Portas Vilaseca mostra uma solo de Gustavo Nazareno, só com pinturas e desenhos de pessoas negras.

Numa feira que pode indicar a recuperação do mercado depois da crise causada pela pandemia, os galeristas parecem estar fazendo "o possível no impossível", como o diz o neon de Regina Parra na entrada do evento.

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