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Cinema

'Pixinguinha', com Seu Jorge, tem muito açúcar e pouco contexto musical

Cinebiografia enfatiza mais as questões pessoais do que a carreira do compositor

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Pixinguinha - um Homem Carinhoso

Avaliação: Ruim
  • Quando: estreia nos cinemas nesta quinta (11.nov)
  • Elenco: Seu Jorge, Taís Araújo, Milton Gonçalves, Danilo Ferreira
  • Produção: Brasil, 1h41min
  • Direção: Denise Saraceni e Allan Fiterman

Uma das melhores músicas do disco recém-lançado de Caetano Veloso é "GilGal", em que ele homenageia nomes como Jorge Ben, Milton Nascimento, Wilson Batista e o grupo Tincoãs. O primeiro músico mencionado na letra é Pixinguinha, mais um entre tantos sinais da importância e da influência deste compositor, flautista e saxofonista nascido no Rio de Janeiro em 1897.

A cinebiografia "Pixinguinha - Um Homem Carinhoso", que estreia nesta quinta-feira, lembra composições notáveis dele com parceiros letristas, como "Lamentos", "Benguelê", na voz de Clementina de Jesus, e "Rosa", com Caetano.

A produção dirigida por Denise Saraceni e Allan Fiterman também revive momentos de virada na carreira do instrumentista, como a ida a Paris dos Oito Batutas, com um Pixinguinha muito jovem na flauta, e a gravação consagradora de "Carinhoso" por Orlando Silva.

No entanto, é provável que o filme decepcione quem espera um mergulho na obra de Pixinguinha. As interpretações de choros, sambas e maxixes aparecem em trechos curtos, e pouco se fala sobre o contexto cultural e o processo de criação de composições que se tornaram clássicos da música popular brasileira.

O fato é que "Pixinguinha" dedica mais atenção às questões pessoais do que à trajetória musical. Okay, é uma opção legítima, que poderia ter dado certo. A vida do compositor interpretado por Seu Jorge tem sobressaltos com potencial para impulsionar um filme, como o alcoolismo e a dificuldade de pagar a casa que comprou com a mulher, a vedete Albertina Nunes Pereira, a Beti, papel de Taís Araújo.

Episódios como esses estão na produção, mas envolvidos num tom açucarado, que logo abafa as tensões. As ambivalências dos personagens se diluem nessa toada quase sempre festiva, que resulta artificial. Bom ator que é, Seu Jorge se empenha no papel, mas a verdade é que recebeu um personagem mal escrito, em estado permanente de sabedoria, bondade e mansidão. Ou seja, um Pixinguinha menos complexo do que certamente foi.

O racismo dá as caras em algumas cenas, como no momento em que a família de Pixinguinha se reúne para ler as críticas da imprensa às apresentações do Oito Batutas —um dos comentários é escandalosamente preconceituoso. É bom que o tema não seja escanteado. Poderia, no entanto, receber uma abordagem menos ligeira, o que acaba sugerindo que nada, nem mesmo a discriminação, pode abalar o equilíbrio do protagonista.

O casamento de Pixinguinha e Beti foi, em geral, bem-sucedido, mas o filme precisaria reiterar essa harmonia conjugal em imagens que, em busca de uma suposta perfeição plástica, ganham uma aparência de publicidade?

Condensar 75 anos de vida em um filme de pouco mais de uma hora e meia é um desafio —mais prudente teria sido escolher uma fase da vida do compositor. Mas o problema está menos na extensão do período retratado do que no modo como se retrata. Pixinguinha merece mais, muito mais.

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