Drauzio Varella sugere parceria público-privada para acabar com a fome no Brasil
Médico e colunista da Folha participou de mesa da Feira do Livro, no Pacaembu, diante de plateia amontoada
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Um dos principais nomes do debate público sobre saúde no Brasil, o médico oncologista e colunista da Folha Drauzio Varella afirmou que o presidente Jair Bolsonaro e seu ministério da Saúde agravaram a situação da pandemia no país ao realizarem um "ativismo em favor da disseminação da" Covid.
"Quase 700 mil mortes, das quais grande número foi desnecessário. Pagaram com a vida a irresponsabilidade dos nossos dirigentes", disse ele ao participar de uma mesa na Feira do Livro, no Pacaembu, com mediação da repórter deste jornal Cláudia Collucci.
O debate ocorreu neste sábado (11), a partir das 13h45, com os visitantes da feira se aglomerando tanto nas cadeiras quanto ao redor do palco instalado no centro da Praça Charles Miller na expectativa de ouvir o médico —a organização do evento calcula que cerca de 300 pessoas acompanharam a mesa.
Drauzio subiu ao palco acompanhado pelo vereador Eduardo Suplicy (PT), que carregava um exemplar de "O Exercício da Incerteza", autobiografia do oncologista recém-lançada pela Companhia das Letras.
O médico contou que o livro nasceu do convite de sua turma de faculdade para ser orador numa cerimônia. Formulou então um discurso em que refletia sobre a mudança da medicina nas últimas décadas e o impacto disso sobre a vida dele e dos colegas. "Nós vivemos uma nova medicina", percebeu. "Aproveitei aquele momento e o isolamento pandêmico para expandir essa reflexão."
Sobre a pandemia, Drauzio teceu várias considerações. Primeiro, comparou-a com a epidemia da Aids nos anos 1980. Depois, apontou a relevância do SUS, o Sistema Único de Saúde, descrevendo-o como "uma revolução" cuja magnitude não se repetirá nos próximos cem anos.
Ele afirmou que o coronavírus criou um entendimento novo na medicina. Isso porque o vírus tem gerado variantes mais transmissíveis, e com muita velocidade. "Entrou em lugar fechado, põe máscara", alertou ele, suscitando palmas da plateia.
Drauzio não limitou a mesa à Covid, no entanto. Questionado sobre a situação da cracolândia, crítica há um mês, ele expandiu a questão para refletir sobre soluções políticas para a dependência química e a criminalidade.
"Depois que a situação está estabelecida, não tem solução rápida", disse o médico, citando exemplos de políticas municipais prévias que em sua opinião foram "respostas simplistas e ineficazes".
Segundo Drauzio, o problema da cracolândia é um reflexo da desigualdade de renda no país. "Não dá para viver aqui e querer que não tenha usuário de crack, que não tenha furto de celular."
Ao falar sobre a criminalidade, o médico defendeu que o encarceramento em massa não é uma solução. Segundo ele, que por anos atendeu a população carcerária do Carandiru, na zona norte paulistana, os jovens viram "presa fácil" do crime organizado ao ficarem presos nos meses em que aguardam julgamento. "Nós criamos o crime organizado com o massacre do Carandiru, e nós o mantemos com o exército de moleques que colocamos dentro das cadeias", disse.
O médico ainda abordou a fome no Brasil, que segundo levantamento recente atinge hoje 33 milhões de pessoas, mais do que 30 anos atrás. "Para tudo! Nós temos que resolver agora esse problema!", exclamou, ouvindo mais aplausos da plateia em resposta.
Foi naquele momento que o colunista lembrou do fundo Todos pela Saúde, criado pelo banco Itaú a partir de um aporte de R$ 1 bilhão para o combate da Covid. "Por que não construir algo semelhante para a fome?", indagou. "Com a solidariedade da iniciativa privada e do governo… Mas dá para esperar solidariedade de um governo desses?", prosseguiu, levantando mais aplausos do público.
Outra preocupação do médico são os cigarros eletrônicos, segundo ele uma nova maneira encontrada pela indústria do tabaco para viciar crianças. "Eles colocam essências de menta, maçã, morango, chocolate, com esse único objetivo. É gente de terno e gravata, com estudos de mercado debaixo do braço."
Drauzio também comentou sua fama. Segundo ele, alcançar o status de celebridade já na maturidade facilitou lidar com as responsabilidades públicas de "aparecer na televisão todo domingo na casa dos brasileiros para falar de saúde".
A programação da Feira do Livro se estende até este domingo (12), com mesas literárias dispostas entre dois espaços: o Palco da Praça e o Auditório Armando Nogueira.
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